Na Gentalha do Pichel levam tempo com uma interessantíssima campanha destinada a apagar castelhanismos desnecessários da nossa vida diária. Isto conseguem-no através da designação de uma palavra do mês.
Nesta ocasião toca a vez da palavra caneta, tão deostada por muitos isolacionistas que, sem qualquer tipo de crítica, optam pola forma natural (ou seja, a castelhano-espanhola): bolígrafo.
Decerto, a presença desta palavra (juntamente com calcetín) é um dos mais evidentes exemplos léxicos da dependência absoluta do ILG e da RAG respeito da língua castelhana.
Para facilitar a leitura do artigo, estruturo o argumento em quatro pontos:
- Este utensílio foi inventado em 1938. A existência de uma nova realidade (muito recente, aliás) implicou a criação de um termo para designá-la. Assim, em castelhano pode ser nomeado bolígrafo, birome, esferógrafo ou lapicera, entre outros.
- Na Galiza, a palavra frequentemente utilizada (e validada pola RAG e o ILG) é a forma castelhana bolígrafo, que procede de «bola y grafo», como recolhe o próprio dicionário da Real Academia Española.
- Em Portugal e no resto da Lusofonia a palavra empregue é caneta esferográfica, comummente abreviada para caneta (sobretudo em Portugal) ou apenas esferográfica.
- A validação de bolígrafo como palavra galega contra-diz flagrantemente o estipulado no princípio n.º 4 das normas ILG-RAG:
Para o arrequecemento do léxico culto, nomeadamente no referido aos ámbitos científico e técnico, o portugués será considerado recurso fundamental, sempre que esta adopción non for contraria ás características estruturais do galego. As escollas deben decidirse de acordo cun criterio de coherencia interna, a fin de que o galego común non resulte arbitrario e incongruente.
Mais uma vez, resulta evidente que o termo caneta deveria ser válido nas normas ILG-RAG em virtude do dito princípio. Ainda, a palavra caneta é plenamente acorde com as características estruturais do galego, já que essa mesma palavra já existe na nossa língua com significados adicionais:
Caneta s. f. (1) Caneleiro de madeira colocado baixo a moega por onde baixa o milho à mó do moinho. (2) Tábua acanalada por onde verte água a fonte. (3) Tubo ou cabo em que se encaixa um objecto para escrever ou desenhar. (4) Pena de escrever. (5) Cabo com que os operadores cirúrgicos seguram o cautério [de cana].
Para comprovar um outro absurdo evidente das normas ILG/RAG, recomendo este magnífico artigo de José Manuel Barbosa sobre “adestrar” e “treinar”.