Escândalo! A Real Academia Galega aceita a palavra castelhana calcetín (veja aqui)! Resulta bastante incrível que a RAG aceite sem qualquer crítica essa palavra só porque esteja amplamente estendida e nem tão-sequer ponha empenho em recuperar a forma galega, peúga (com a variante peúgo), que como o nome sugere tem a ver com pé (vem do latim seródio peduca, e lembremos que pé era pedem no latim clássico).
Calcetín é, mire-se como se mirar, palavra castelhana, já que em galego, sendo generosos, unicamente poderia ter dado calcetinho ou calcinho, pois provém da palavra calça. As calças, antigamente, eram uma espécia de meias que cumpriam a função dos actuais mas, como as meias, cobrindo integramente desde a cintura até os pés (como as sotas do baralho 😆 ). Ao se recurtar a prenda nasceram as peúgas ou, em castelhano, os calcetines, como diminutivos das antigas calças.
Prova clara do castelhanismo é o sufixo -ín, que só se regista no galego medieval (e esta peça de roupa é, porém, muito mais moderna 😎 ) e sempre em contadas palavras (geralmente topónimos e antropónimos). Também o lexema -et- (calc-et-ín) é revelador, já que é frequente no castelhano e inexistente no galego (por exemplo, cajetín).
Resulta inacreditável que a RAG (e os seus assessores científicos, o ILG) ponha tanto empenho em difundir dialectalismos minoritários como parte da norma ou em recuperar arcaísmos obsoletos, e não faça o mesmo com uma palavra perfeitamente galega, plenamente viva na Lusofonia, e em risco de desaparição na Galiza (na minha família, minha avó paterna foi a última em usá-la, cuido que na variante peúgo).
Julgo que a atitude da RAG queda bem ilustrada com a imagem que acompanha o artigo: fede um pouco!
Comentários
12 comentários a “Escândalo! A Real Academia Galega aceita a palavra castelhana «calcetín»”
1) Admítense en galego RAG tanto “calcetín” coma “peúgo” e non se “prioriza” ningunha das dúas formas, que eu saiba.
2) De todos os xeitos, creo que un “peúgo” non é o mesmo ca un “calcetín”. Un “peúgo” sería o que en castelán é un “patuco”; é dicir, un “peúgo” sería un calcetín curto.
3) Recentemente vostede e mais eu comentamos algo do sufixo “-ín” (“-im” para vostede) en galego e daquela non era vostede tan belixerante 😀
4) Teño entendido que entre a lusofonía está máis estendido o termo “meia”, pero claro iso vostede se cadra non o cita porque pode entrar en conflito co uso que lle damos aquí á palabra “media”… ou é “meia”? Creo que o presidente da AGLP diría a forma arcaica “mea” igual que di “idea” 😀
5) A ver cando fan unha campaña para quitar os “repolhos” da lingua portuguesa 😀
efectivamente, acabo de confirmar que tamén en portugués non é o mesmo unha “meia” ca unha “peúga”
Logo patinas tu :D!
non, non… patina vostede porque vostede di no seu artigo que se debería dicir “peúga” para referirse a “calcetín” cando “peúgo” (ou peúga) e “calcetín” non son o mesmo! 😀
eu uso “executivos”… como se dirá iso en lusófono? 😀 😀 haberá que investigar! (supoño que se dirá “meias” tamén) 😀
imos ver
o infopédia di tamén:
“peúga: meia curta”
polo tanto diferencia entre unha “meia” e unha “peúga”… e eu xuraría (non estou certo de todo) que os “calcetíns” en Portugal son “meias” máis que “peúgas”… polo tanto eu creo que non son o mesmo. hai, para empezar, unha diferenza de tamaño.
1.- Claro que se prioriza: eu nunca vi “peúga” num livro de texto galego. E na entrada de “peúgo” no dicionário da RAG, aparece definição? Não, diz “ver ‘calcetín’”.
2.- Eu digo que a forma galego-portuguesa é “peúga”. E também comentei que não lembro se minha avó se referia a elas em forma masculina como feminina (na masculina é que a RAG reconhece).
3.- Eu só disse agora o mesmo que naquela altura. O sufixo -im em galego só se dá actualmente na zona oriental do país, na mais oriental. Em galego é uma terminação arcaica e desaparecida, mas mantém-se viva na zona mais oriental porque também existe no asturiano. Prova do seu arcaísmo é que hoje em dia só existe em topónimos e nas mesmas zonas em que hoje em dia só se dá o sufixo -inho (Marim, Abadim…). Não é beligerância: calcetim em galego não é arcaísmo, mas castelhanismo.
4.- A forma “mea” é para algo que está no meio ou de tamanho médio, como no apelido e topónimo Vila Meã /.
5.- Algum dia tiraremos os “repolhos”, “penhas”, “canhões” e “cavalheiros” da língua portuguesa… algum dia 😀
Dicionário da Priberam.pt
Dicionário e-Estraviz
Obviando a definição machista do dicionário da Priberam, acho que no e-Estraviz fica perfeitamente claro que são o mesmo.
Os teus são de cuitela ou de roda? 😀 😀 😀
Claro que há diferença: as “meias” são mais longas. Repara em que as dos futebolistas chegam até os joelhos e as peúgas “só” até o meio das canelas. As peúgas seriam, entendo, meias curtas. Daí, entendo (mais uma vez) que o pessoal chame de “meias” mesmo às peúgas, já que todas as peúgas são meias, mas nem todas as meias são peúgas. É o mesmo que entre primos e curmãos: todos os curmãos são primos, mas nem todos os primos são curmãos.
devia-se fazer ũa lista cos castelanismos todos que admite a rag…
Boa parte deles já os recolhe o Estudo Crítico das Normas Ortográficas e Morfológicas do Idioma Galego, que a dia de hoje está em boa parte obsoleto devido a que após a última edição do mesmo houve mudanças nessas Normas (as NOMIG), polo que muitos dos “castelhanismos” criticados já estão actualmente eliminados. Ficam, no entanto, uns quantos que se podem peneirar comparando o Estudo com a última edição das NOMIG.
“Uns quantos” com as NOMIG, porque se vamos já ao VOLGa do ILG dá para fazer um macrodicionário. Também estám as Normas do Galego de Astúrias. nom nos esqueçamos, que postos a fazer normas… xDD
Pois sim, tou por aqui. Homem… eu vivo bem, outros vivem melhor e muitos mais vivem pior… mas eu gosto do país hehe. A cidade é um pouco como um Vigo enorme, impessoal. Sabes que me podes visitar quando tiveres um tempinho. Eu movo-me a base de bolsas, por isso cheguei até aqui hehe. A tua família está na cidade mesmo ou noutro lugar do Brasil?
Hehehe 🙂 Pois a minha família está mesmo em SP, ainda que um bocadinho dispersa por essa megalópole 😀