Do uso e do abuso da opinião nos meios de comunicação
Contam os cânones jornalísticos que é preceptivo fazer uma clara distinção entre os textos/discursos informativos e os analíticos/opinativos. Eu não acredito em que os meios de comunicação devam ser imparciais. Os meios de comunicação públicos devem ser plurais, o qual é um conceito muito diferente da imparcialidade —e até mais interessante, acho—. Pola sua parte, os meios de comunicação privados podem e devem ser parciais, o pluralismo é algo secundário —mas sempre enriquecedor, não o neguemos—, mas todo isto deve estar subordinado à honestidade, que logicamente também deve presidir os meios públicos. Não quero meios imparciais, quero que sejam honestos, resumo.
Embora não seja um género jornalístico, a opinião está nos meios de comunicação desde que estes existem, e adopta variadíssimas formas nos suportes papel, audiovisual e multimédia: coluna de opinião, cartas à diretora/ao diretor, peças de análise a pé de informação, quadrinhos humorísticos, artigos/espaços editoriais, fóruns, tertúlias e outros formatos.
As razões polas quais um meio de comunicação inclui um espaço de opinião são múltiplas, e vou sugerir apenas umas poucas:
Enriquecer o próprio meio com outros pontos de vista/perspetivas.
Romper a ‘monotonia’ e relativo ‘cansaço’ que por vezes pode causar o estilo informativo.
Diferenciar-se da concorrência.
Aproximar-se mais do seu público-alvo (ou captar nichos de outros públicos).
Derivar a carga opinativa que não se pode explicitar nos textos/discursos jornalísticos. Muitas vezes isto implica que a linha editorial de um determinado meio ‘transpira’ através dos seus espaços de opinião.
Poupar custos.
Acho que estas são as razões principais; pode haver outras, se alguma esqueci podeis anotá-la nos comentários ao pé. Das seis, acredito que a derradeira se está a converter numa perigosa moda, aliás daninha para os meios de comunicação.
Produzir opinião é fácil, pois todas e todos temos opinião. Basta juntar uma ou várias pessoas com opinião e já se pode articular um espaço deste teor. Salvo no caso dos afamados tertulianos ou das cotizadas plumas, não costuma ser necessário um grande investimento.
Fazer jornalismo é relativamente caro, porque consome muitos recursos humanos e de tempo. Pensemos no árduo que resulta uma boa reportagem de investigação ou lograr a entrevista da semana ou do mês: dinheiro em salários, jornalistas ocupados num tema profundo e que portanto não se podem dedicar a outros —o qual obriga a destinar outros recursos humanos que os cubram—, dinheiro em telecomunicações —computador, telefone, deslocamentos, etc.—, um espaço de trabalho para cada trabalhador/a, um… uma… vários… e assim por diante.
Para o empresário ou empresária dos meios —ou para os gestores dos meios públicos, atualmente— resulta caro manter a infra-estrutura necessária para fazer jornalismo. Encher o espaço e os tempos com opinião resulta mais barato, com certeza. Isto, por não falarmos em que às vezes as vozes destes espaços são as marcas brancas dos grupos de pressão —nomeadamente económicos, e portanto rentáveis.
Isto explica o grande volume que se dedica em muitos meios impressos e digitais à opinião, ou a proliferação de fóruns, tertúlias e modelos similares nos audiovisuais. Quando a opinião deixa de servir para ajudar na conformação da opinião pública —missão compartilhada com a informação— e serve unicamente para poupar custos e transformar os meios num galinheiro de monólogos, os meios que apostam neste modelo cavam a sua tumba, mas dão também ajuda para cavar a de outros.
Um comentário a “Do uso e do abuso da opinião nos meios de comunicação”
lipe
Blanco Pazos ao Rei da Comédia!
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