O atual presidente da Junta da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, tomou posse como quinto presidente da etapa autonómica a 16 de abril de 2009. Durante todo este tempo, mais ainda nos últimos dias, desde que anunciou eleições para o vindouro mês, Feijóo insistiu uma e outra vez em que a sua gestão foi «austera», que as contas galegas estão «saneadas» e que a próxima legislatura será a do «crescimento». Mas é mesmo assim?
Com este artigo inicio uma série de três artigos, cada um centrado numa temática, numa mentira de Feijóo: desemprego («vou solucionar o problema do desemprego em 45 dias»[*]) orçamentos («Galiza é a campeã da austeridade») e a dívida pública autonómica («Catalunha pede, Galiza paga»).
Campeão… do desemprego
Como indicado, tomou posse a 16 de abril de 2009. A 5 de maio saíram os dados do desemprego do mês de abril (dos quais, por assim dizermos, tinha ele ‘metade’ da culpa?): 210.662 desempregados e desempregadas. Queremos ser generosos? Bom, pois analisemos os dados do mês de maio (publicados a 2 de junho), agora sim já só imputáveis a ele: 207.518 desempregados e desempregadas.
Exatamente três anos depois, qual é a cifra de desempregados e desempregadas? Os dados do desemprego do mês de maio, publicados a 4 de junho deste ano, revelam 276.608. Nos três primeiros anos de governo de Feijóo, o desemprego, sendo generoso, incrementou-se em 69.090 pessoas.
Como acontece cada ano, nos meses de junho, julho e agosto o desemprego desceu. Analisando polo miúdo os dados do desemprego desses meses comprovamos que foi mercê a contratações realizadas no setor dos serviços (comércio, hotalaria e serviços turísticos, essencialmente), e os dados do passado dia 4 indicam 257.267. Significa isto uma recuperação da economia? Não. Todos os anos houve uma descida do desemprego nesses meses, para passar a se incrementar de novo a dramática cifra de desemprego. Como exemplo, eis a sequência de 2011:
- desemprego registado em abril (publicado em maio): 244.662
- desemprego registado em maio (publicado em junho): 240.014 (primeiro mês com descida)
- desemprego registado em junho (publicado em julho): 233.557 (segundo mês com descida)
- desemprego registado em julho (publicado em agosto): 223.000 (derradeiro mês com descida)
- desemprego registado em agosto (publicado em setembro): 224.582
- desemprego registado em setembro: 232.918
- desemprego registado em outubro: 242.142
- desemprego registado em novembro: 253.416 (neste ponto, já se perde todo o diferencial do período estival e ultrapassam-se as cifras de abril; daqui para a frente, o desemprego continuou a crescer sem parar até junho de 2012)
Provavelmente Feijóo não vai poder resistir a tentação de afirmar que este ano reduziu em quase 20.000 o número de pessoas sem emprego em apenas três meses, mas daqui a nada baterá com a dura realidade. Como acabastes de ler, a anterior vez que aconteceu algo similar, depois o desemprego cresceu durante dez meses consecutivos. De facto, salvo um milagre, os dados do desemprego de setembro (que conheceremos a dia 2 de outubro) evidenciarão um incremento do desemprego.
Neste estado de cousas, a única forma que temos de comprovar a tendência na evolução do emprego é mediante os dados interanuais (comparativas ano a ano). Deste modo temos a seguinte constatação do sucesso das políticas de Feijóo contra o desemprego:
- maio 2009: 207.518 / agosto 2009: 192.859 / novembro 2009: 216.828
- maio 2010: 228.507 / agosto 2010: 211.532/ novembro 2010: 231.721
- maio 2011: 244.662 / agosto 2011: 224.582 / novembro 2011: 253.416
- maio 2012: 277.644 / agosto 2012: 257.267 / novembro 2012: ?
Deixo-vos para vós o exercício de verdes a evolução entre maio de 2012 e maio de 2011 (e os precedentes), e o mesmo entre agosto de 2012 e os precedentes, e assim por diante. É assim como se vem as tendências no comportamento do desemprego, e a conclusão é rotunda. As cifras falam por si sós: Feijóo é o campeão do desemprego.
ATUALIZAÇÃO
Após uma troca de mensagens com um colega, resolvi ilustrar este artigo com dados da EPA (“Encuesta de Población Activa“), os quais são bastante diferentes dos dados do desemprego registado. A diferença essencial é que a EPA, como diz o seu nome, é um inquérito trimestral elaborado polo Instituto Nacional de Estadística, INE. Os inquéritos realizam-se no seio de unidades familiares e procuram obter informações sobre a população ativa (a população em idade de trabalhar, a compreendida entre 16 e 74 anos). Pola sua parte, os dados do desemprego registado são os comunicados em finais de mês polos serviços públicos de emprego, e divulgados no segundo dia laborável do mês seguinte. Na EPA aparecem refletidas (com correções estatísticas) pessoas sem emprego, incluidas as que por algum motivo (estudos ou outras circunstâncias) não figuram como demandantes ativas de emprego. Pola sua parte, os dados do desemprego registado só incluem as pessoas que figuram como tais para a Administração. A diferença é, portanto, de conceito, periodicidade e de metodologia, daí que as cifras procedentes de um lado ou outro não coincidam.
No caso que nos ocupa, vamos começar com a EPA do 2T (segundo trimestre) de 2009. Tendo em conta que Feijóo assumiu a junta a 16 de abril, dos três meses desta EPA o PP teve responsabilidades em dous meses e meio, um período avondo dilatado como para que comece a comparativa com a EPA do 2T em lugar do 3T.
Nos últimos três anos, sem exceção, a sequência foi a mesma: emprego elevado no 1T, incremento no 2T, descida pronunciada no 3T (devido às contratações que se produzem nesse trimestre, época estival), incremento de novo no 4T e incremento brutal no 1T do ano seguinte. A seguir vai uma tabela muito reveladora:
Segundo a EPA, justo nos primeiros três anos de governo de Feijóo (2T2009 a 2T2012), o desemprego teria-se incrementado na Galiza em mais de 100.000 pessoas, uma cifra realmente espetacular (ultrapassa em perto de 30.000 as indicadas nos dados de desemprego registado).
O que dizer, também da taxa de desemprego? Passamos de 12,93% a uns brutais 21,07%. O pior é que as perspetivas não auguram qualquer recuperação, mas ao contrário. As respostas, à volta do verão.
Uma aposta arriscada
Vou findar a minha exposição com uma aposta, e atrevo-me a dizer que o final deste mês de setembro a cifra de desempregados e desempregadas andará por volta de 265.000 (desemprego registado). Oxalá esteja num clamoroso erro. A dia 2 de outubro sairemos de dúvidas.
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[*] Realmente nunca chegou a afirmar que ia reduzir o desemprego em 45 dias: é um desses falsos mitos modernos. Porém,o que si fez Feijóo foi protagonizar spots eleitorais do PP acusando a oposição de ser culpável do desemprego, mesmo denunciando que o bipartido queria pôr os desempregados “a limpar gávias”… três anos e meio depois é o PP, com Rajoy, o que pretende pôr os desempregados a limpar os montes após os incêndios, entre outras obscenidades como o repagamento sanitário, o endurecimento dos requisitos para receber subsídios, etc.
Comentários
Um comentário a “As mentiras económicas de Feijóo 1/3”
Parece que o lusismo cresce ainda que não saia na TVG. Agora aguardemos as consequências das declarações do Tonhito, porque socialmente faz mais um músico famoso do que vinte professores universitários. Esperemos que não fosse só uma arroutada.