Como é sabido, a Academia Galega da Língua Portuguesa, a pedido da Academia das Ciências de Lisboa, realiza desde o ano passado um grande trabalho lexicográfico com o intuito de seleccionar uma série de palavras genuinamente galegas (em palavras do professor Monteiro Santalha) para incluir nos dicionários da língua portuguesa (ou seja, do galego de Portugal).
De jeito informal, comentou-se nos fóruns do PGL que poderia haver entre 400 e 600 palavras dignas de fazerem parte dessa amostra. Porém, não tardou em chegar a intoxicação («Acçom insidiosa sobre o espírito das pessoas, destinada a influenciá-las») a se escandalizar por isto.
Tal reacção só pode perceber-se de dous pontos de vista:
- a impotência que causa enfrentar-se a diário com que o galego não é uma língua de seu, isolada do mundo galego-português e constantemente submetida ao castelhano…
- … e o desconhecimento do que significa a palavra genuíno.
Genuíno adj. (1) Sem mistura nem alteraçom. (2) Próprio, natural, autêntico, legítimo. (3) Sincero, franco. Sinóns. Autêntico, castiço, natural, próprio, verdadeiro, vernáculo [lat. genuinu].
Aplicado a este trabalho lexicográfico, as palavras genuinamente galegas seriam as que, sem mistura nem alteração por influência de uma outra língua (neste caso, o castelhano), sejam próprias do âmbito geográfico galego e portanto legítimas no diassistema linguístico galego-português. Isso sim, todas estas palavras devem estar na altura fora dos dicionários portugueses (porque o trabalho trata da sua inclusão, e se já o estão não podem entrar… é óbvio).
Por exemplo, a palavra dous é genuinamente galega, mas já está nos dicionários portugueses desde tempo imemorial, ainda que nalguns dos mais recentes tenda a desaparecer. Mas está nos dicionários porgueses porque é também uma palavra portuguesa, isto é, falada em Portugal (de facto, nos dicionários aparece precedida da abreviatura reg., que indica as formas regionais). O mesmo caso de «dous» é o das palavras cousa, coiro, e em geral todas as alternâncias ou/oi e oi/ou.
Outras palavras já estão incluídas, só que com diferente grafia à do padrão galego isolacionista… irmão, cão, jeito, laje, ronha ou minhoca (irmán, can, xeito, laxe, roña, miñoca)… ou primando umas variantes dialectais sobre as outras… filhó, doninha (filloa, donicela).
Mesmo algumas formas que nalgumas zonas da Galiza são muito vivas e noutras totalmente desconhecidas, polo qual poderíamos pensar que são formas genuinamente galegas, resulta que também estão vivas em Portugal!! É o caso de broa, cucho, brossa, carqueija ou uz (;-))
É claro que sendo esse o estado de cousas, o número de palavras genuinamente galegas que na altura estejam fora dos dicionários portugueses está em caída livre 🙂
Sem realizar um trabalho extenso, algumas das que se me ocorrem são lôstrego (lampo), brêtema (névoa), enxebre (*) ou xebrar (separar). Decerto, encontrar ao menos 400 palavras já me parece grande trabalho como para localizar 600 ou mesmo 1.000!!!
(*) Polo seu próprio significado, e polo facto de estar ausente em dicionários portugueses, provavelmente seja esta a palavra mais enxebre de toda a língua galega, isto é, do português falado na Galiza.
Comentários
28 comentários a “Palavras genuinamente galegas”
a lingua galega achégalle á lusofonía
400-600 palabras “xenuínas” que collen nun folio
somos a hostia!
nin sequera chegamos ás 1.000 palabras que o profesor Maurer ofrece nos seus famosísimos cursos de inglés
http://www.cursosccc.com/curso_ingles_distancia.asp
en fin
se vostede é feliz con iso…
eu creo sinceramente que hai moitas, moitas máis
pero se a vostede lle parece suficiente… tudo bem!
Deixa de intoxicar, ho 😉 Se achas que há mais palavras… ao menos ilustra-nos com quais julgas que mereceriam formar parte desse elenco (obviando, logicamente, “osea”, “bueno”, “mogollón”, “bolígrafo” e similares :D).
que quere? que faga eu o traballo ese?
para iso xa están os sabios da AGLP, home!
😀
así se explica o pouco tempo que están tardando en facer as súas propostas lexicográficas…!
cantos curran nesa historia?
imaxinemos 6 persoas
toca a 100 palabras por persoa máximo
facendo matemáticas novamente
sáenos que os galegos crearon unha palabra propia cada ano aproximadamente, a pesar de ter oito séculos de historia “de costas viradas”…
se ata o dialecto mexicano, arxentino ou peruano do español internacional ten máis de 600 palabras, home! e nin sequera houbo a separación política que nos afastou a galegos e portugueses!
sexamos serios, por favor!
😉 😀
e dígolle todo isto
mantendo o cariño que sinto cara a vostede
Alema, és tu quem deveria ser sério… Pensa que na Argentina, no México ou no resto da hispanofonia americana o castelhano impôs-se sobre línguas pré-existentes (quíchua, aimará, guarani, gaúcho…), das quais não lhe quedou outra que assumir novas palavras. O mesmo acontece também com o português brasileiro (termos como jacaré, caipira, guaraná…).
Porém, na Galiza isso aconteceu quando chegou o latim, e não quando o galego-português se diferenciou desse latim primigénio, daí que a situação não se possa comparar.
E eu vou mais além e digo-che que sejas VALENTE e me digas ao menos DOZE palavras genuinamente galegas QUE NÃO ESTEJAM EM DICIONÁRIOS PORTUGUESES. E depois discutimo-lo.
ghoder, vostede quere facerme currar… está visto!
😀
mire
para darlle unha pista
onde están os significados galegos das palabras que xa están presentes na lusofonía? (onde hai milleiros e milleiros de casos)
ai non, que iso non o traballan, claro 🙁
eu sigo insistindo en que debe haber máis das que vostedes anuncian
fixeron unha comparación entre bases de datos de dicionarios portugueses e o Estraviz, por exemplo?
só lles saen 600 palabras diferentes?
acaba de ocorrérseme unha palabra galega (segundo o Estraviz) que seguro que non aparece nos dicionarios portugueses
XEFE
😀
Alema, não amoles, ho! “Xefe” entra na categoria de palavras que JÁ ESTÃO mas COM DIFERENTE ORTOGRAFIA. Neste caso está grafada como CHEFE. Portanto, não serve.
Vês como realmente dá trabalho? Até o momento não lograste pôr UM SÓ EXEMPLO.
Por outra parte, quais são esses “significados galegos” que não aparecem nos dicionários portugueses? Ilustra-me com algum exemplo para perceber melhor.
NOTA: a encomenda da ACL foi para incluir PALAVRAS, não SIGNIFICADOS. Imagino que isto último será para um trabalho posterior, em todo caso.
unha palabra?
voulle dar dúas
que se me ocorren así de súpeto
choio
choiar
pero hainas a eito (non me faga que me poña a revisar unha por unha nos dicionarios, que é algo que dá moito choio……
pois nada, nada
sigan choiando para deixar claro que temos un léxico xenuíno pobrísimo 🙂
Abofé que dá trabalho… ou que pensavas?
Mas entre tu e eu só demos colocado cinco (“choiar” e “choio” vou-nas contar como uma só, “choio”), porque se nos pomos com as formas derivadas é algo inacabável:
choiante, choieiro, choiável, choião 😉
igual que enxebrismo, hiperenxebrismo, enxebrizante, enxebrar…
Acredita que “choio” figurará nessa listagem. E, como digo, cuido que dificilmente se chegará a 600 palavras. Eu propôs-che colocar ao menos uma dúzia de palavras… mas obviamente devi pedir-che que fossem palavras ORIGINAIS, não as formas derivadas 😉
Mas mesmo pondo todas as formas derivadas, dificilmente se chegará às mil.
outra:
bicoca
😛
WRONG!! Volta mirar a definição de GENUÍNO, Alema 😉 [Genuíno adj. (1) Sem mistura nem alteraçom. (2) Próprio, natural, autêntico, legítimo. (…)]
“Bicoca” é uma palavra ITALIANA. De facto, é dos barbarismos mais evidentes, porque procede da localidade de Bicocca, ao pé mesmo de Milão. Essa palavra entrou no castelhano a partir de 1522 para designar uma vitória fácil (pesquisa nalgum livro de história ou na Wikipédia sobre a Batalha de Bicocca ;)).
A palavra “genuinamente galega” seria GOIO, que esta sim não aparece em dicionários portugueses 😀
bicoca é galego! 😛
claro… o problema que teñen vostedes é que son demasiado “puristas” e empregan métodos moi estritos que reducen o galego a NADA ou CASE NADA.
se é galego un italiano que leva aquí vivindo toda a vida,
como non vai ser galego “bicoca” por moito que veña de Italia?
os romanos tamén viñeron de Italia! 😛
vostedes ven “barbarismos” por toda a parte e así lles vai 🙁
Não venhas com caralhadas a estas alturas do conto, Alema. Eu não sou quem inventou a definição de “genuíno”. E por outra parte, sou-che galego e nunca na vida usei “bicoca”.
E se fôssemos tão puristas como dizes, “bicoca” não estaria no e-Estraviz 😉
Misturas com demasiada alegria línguas de substrato com barbarismos… e por outra parte não se trata tampouco de ver barbarismos em toda a parte: SÓ É BARBARISMO AQUELE TERMO QUE SUBSTITUI UMA PALAVRA ‘GENUINAMENTE’ GALEGA 😉 O resto são EMPRÉSTIMOS.
Se tu não sabes diferenciar uma cousa da outra, obviamente não é o meu problema (dito isto com todo o carinho e respeito).
Por outra parte, parece-me temerário e absurdo pola tua parte criticares o que vai fazer a AGLP quando ainda está em pleno trabalho, sobretudo quando não prevêem finalizar antes de 2010.
iso non é o que di a señora
isabel rei nos foros da AGAL
🙄
que asegura que os traballos están xa para rematar, practicamente… en que quedamos?
encontrar 600 palabras máximo non debería de levar tanto tempo
e sigo dicindo que vostede é moi “estrito” coa definición de “xenuíno” 😀
Eu guio-me polo que me comentou a mim Martinho Monteiro há uns meses. Primeiro é necessário fazer uma pré-selecção, e logo debater sobre ela.
Que não dá tanto tempo atopar 600 palavras? Já se vê o que che está a levar a ti dar 12 😀
NOTA: dá-me tu uma definição melhor de “genuíno” (só me vale de algum dicionário acreditado, não da Merdapédia ;)).
no digalego.com vén unha moi boa 🙂
isabel rei e martinho monteiro, coordínenseme
ou exprésense como é debido 🙂
Como disse, o que me comentou o professor Monteiro Santalha foi há vários meses. Talvez os trabalhos se agilizassem desde a entrada de novos académicos, sei lá 😛
Definição de “xenuíno” em digalego.com
Vaia merda de definição (dispensando). É o mesmo que não dizer nada.
“sei lá” é galego?
😀
Mmm… “sei” é galego e “lá” é galego. Ergo, “sei lá” é galego 😀
Também podo utilizar o teu argumentinho para defenderes “bicoca”:
A que amola? 😀
Nada, nada, o que há que fazer é usar o critério da RAG (e que tu defendes): existe em castelhano e usamo-lo a diário? Logo, é galego 😉
iso é o malo:
que os galegos NON empregan “sei lá”
é coma se eu, falando en castelán internacional de Galicia, digo “egh que hoy no voy a clase”… todo o mundo diría… pero este que bebeu?
pois o mesmo, cando un galego di ou escribe “sei lá”, pá não? 😀
“bicoca” fíxose galego porque os galegos o emprega(ro)n
“sei lá” non é galego porque os galegos non o usan 🙁
tan fácil coma iso
seguindo a súa regra de tres, everything is (or could be) Galician.
Alema, deixa de falar polos galegos em geral, armadediós 😀 Dá-me dados, estudos, onde se diga que os galegos dizem “bicoca” e não “sei lá”. Eu opino só sobre questões empíricas, e não do sexo dos anjos. O galego é mais do que se fala na tua cidade. Para falar do galego em geral cumpre ter viajado muito pola Galiza e ter ouvido e falado muito galego.
Por certo, já renuncias aos teus argumentos? Dizias que se um italiano leva muito tempo na Galiza e diz “bicoca”, isso é galego. Pois há muitos mais portugueses na Galiza do que italianos (e brasileiors, e cabo-verdianos…), assim que “sei lá” deve ser galego genuíno 😉
E como dizia Raimon, “qui ja ho sepa tot que no vinga escoltar-me”.
non, non
eu non dixen tal
ou expliqueime mal
a ver
eu digo que bicoca é unha palabra galega porque, a pesar de proceder de italia, está instaurada no galego (igual que bueno, por exemplo) despois dun proceso de ANOS de uso ou de SÉCULOS (no caso de bueno polo menos)
pola contra
‘sei lá’ non está metido na conciencia colectiva galega, síntollo moito… moito menos que “bicoca” e moitísimo menos ca “bueno”…
aplicando o seu razoamento, os chineses que traballan nos bazares falan galego cando din ‘ni hau’, por exemplo 😀
en que aldea terremota (non fronteiriza con portugal) din “sei lá”?
😀
Mmmm… esta manhã fiz um inquérito não científico a 34 pessoas galegas (falantes de galego, de castelhano, ou “com si, com ça”), das quais só 2 (monolíngues em castelhano) utilizam habitual ou ocasionalmente “bicoca”. Os dados falam sós.
pero saben o que é “bicoca”?
e deses 34, cantos din “sei lá” (despois de escoitalo na súa familia, por exemplo)?
Pois havia-che bastantes que ignoravam o que é “bicoca” 😀 E isso que fiz o “estudo” num lugar urbano, que se o chego a fazer no rural…
SEI LÁ é galego 😉
“egh que hoy no voy a clase”… todo o mundo diría… pero este que bebeu?
mmm nom o vejo xDDD
http://alema.org/2009/02/07/cunha-ra-e-os-seus-fillos-fago-eu-mais-do-1-do-choio-da-aglp/
😀 😀
Preciso do significado das seguintes palavras: lambetas, brêtemos, chisco, cerdeiros, bubelas, arelas, retrincos, esgrêvios, lôstregos, alouminhos, estantios. Agradeço a gentileza se alguém se dispor a me ajudar. Um abraço.
Ana, tem um excelente dicionário aqui: http://estraviz.agal-gz.org
– Lambetas: guloso
– Brêtemos: desconheço a palavra. Eu só sei de “brêtema”, que é um tipo de névoa.
– Chisco: pisca ou bocadinho. Quantidade pequena de algo ou porção de tempo.
– Cerdeiro: eu só conheço a forma feminina, “cerdeira”, que é o mesmo que cere(i)jeira (árvore).
– Bubela: ou “abubela”, é uma ave (Upupa epops). Também é conhecida como poupa.
– Arela: desejo.
– Retrincos: restos de algo que se cortou ou rompeu. Nacos, pedaços.
– Esgrévio: tem muitas acepções, recomendo-lhe o dicionário antes mencionado.
– Lôstrego: lampo.
– Alouminho: mimo, carícia, gesto tenro.
– Estantio: desconheço o termo.