De galeguzos, wikipédias, isolo-reintegratas e espanholistas

Boa se armou ontem em Vieiros com a publicação de um artigo em aparência intrascendente: a Wikipédia em espanhol deturpa os topónimos galegos. Como se isso fosse novidade! A verdade é que me doi criticá-lo, mas tenho o convencimento de que o artigo de Vieiros não há por onde colhê-lo, e é mais voluntarista e galeguista do que jornalístico. Vá por diante que não acredito no jornalismo imparcial, mas num jornalismo honesto focado para um objectivo social. Neste ponto, acho que o artigo em questão não cumpre ambos preceitos. Irei por partes.

Se vostedes remexen nas wikipedias turca ou neerlandesa na procura d’O Grove, non terán problema en dar co topónimo oficial deste concello pontevedrés. Do mesmo xeito, o internauta que na versión vietnamita asina Nalzogul, tivo sentidiño abondo como para escoller O Carballiño para a entrada correspondente a este municipio ourensán.

Se calhar é porque ou bem estavam informados de qual é a versão autóctone, ou bem porque casualmente tomaram a moléstia de se documentarem. Algo loável, ao tempo que inaudito que isso desse passado o filtro espanhol (que costuma deturpar tudo quanto é galego a nível internacional). E como possivelmente nessas línguas não tenham uma adaptação do topónimo, postos a utilizarem a versão vernácula ou a espanholizada, optaram com bom critério pola vernácula (deixaremos para outro episódio a discussão do topónimo O Grove, O Grobe, Ogrove, Ogrobe :D).

Quen na internet italiana ande pola súa enciclopedia libre, poderá ler que Ponte Caldelas é un concello “della Galizia”. Non hai dúbida tampouco para os wikipedistas ingleses de cal é o nome de Salvaterra de Miño. Un tal Michiel foi o encargado de incluír nos Países Baixos a referencia a As Pontes que poden ler os neerlandeses. En Francia ou Polonia, non lle inventan outro nome a Viveiro. E sen saír da Mariña, os wikipedistas ingleses falan de Celeiro con normalidade.

O uso correcto de Celeiro por parte dos ingleses talvez se explique pola relação portuária, claro que também pode ser por pura cultura e, novamente, ausência de um topónimo adaptado. Mas resulta curioso que na notícia não se observe que a wikipédia italiana diz que Ponte Caldelas (e não Puonte ou Puente Caldelas :D) pertence «alla Galizia» e não se escandalize. Acaso não é a forma oficial do topónimo “Galicia”? Ó, e pior ainda, reclama-se respeito toponímico e fala-se dos Países Baixos (tradução literal de Nederlands). Horror novamente! O artigo já incorre em duas flagrantes contradições no segundo parágrafo. Continuemos.

Porén, quen atreva a navegar pola wikipedia castelá topará cunha galería de despropósitos toponímicos para cada unha das vilas antes referenciadas: El Grove, Carballino, Puentecaldelas, Salvatierra, Vivero ou Cillero son as disparatadas escollas realizadas neste caso polos wikipedistas. Así, desta volta a oficialidade non é argumento para un pequeno grupo de administradores que bloquean sistematicamente calquera intento de mudar estas entradas polo topónimo legal.

Como intentei aclarar nos comentários da nova de Vieiros, aí juntam-se duas circunstâncias. A primeira, que em castelhano alguns desses topónimos contam com certa tradição, o qual justificaria o seu uso (como o de Galizia por Galicia ou Países Baixos por Nederlands). É algo que acontece em todos os idiomas, e muitas vezes a não adaptação leva a sérios atrancos para a súa pronúncia, como bem assinalava há um tempinho Alema. Como se pode reclamar para outros um suposto respeito quando no mesmo artigo em que isto se reclama se incorre no mesmo erro?

Wikipedistas galegos deixan de colaborar na versión “en español”
“Seguen esquemas da época de Franco”, láiase Miguel Bugallo, un dos xestores da versión en galego da Wikipedia, a Galipedia, exitoso proxecto que, por certo, vén de pasar a barreira dos 40 mil artigos.

Claro, como se a Wikipédia galiziana fosse o summum da perfeição e não tivesse as suas eivas… Eu há tempo que não acredito nas Wikipédias, mas isso já irá para um outro artigo em profundidade.

Segundo explica para Vieiros, este grupo de wikipedistas “teimudos” da versión en español están actuando “en contra dos principios” da propia wiki, de costas ao modelo de actuación estabelecido polos fundadores do proxecto.

Rotundamente falso, já que cada versão localizada da Wikipédia tem o seu próprio regulamento, adoptado sempre por ‘consenso’. No caso da castelhana, a política toponímica é clara e diáfana: só se usará o topónimo vernáculo se não se registar documentada alguma adaptação à língua pequeno-imperial, mesmo que isso leve para o uso de formas que só se registam duas vezes em documentos de há duzentos anos. A interpretação pode parecer rigorosa e absurda, mas feita a lei… já sabemos.

Por outra parte, o que se oculta no artigo é que a Wikipédia em castelhano (na qual nunca colaborei… para quê? melhor dedico os esforços à Wikipédia no meu idioma) inclui, ao pé do topónimo castelhanizado, a forma oficial do mesmo.

Também se oculta no artigo que a Wikipédia galega também inclui muitos topónimos internacionais cuja entrada principal é pola forma adaptada. Seguramente quando leias isto pode ter mudado o artigo em questão, mas o se procurarmos Niza leva-nos para o artigo Niza – Nice, um exemplo loável de respeito à legalidade francesa… ainda que o topónimo vernáculo é o occitano Niça. França 1 – Occitânia 0. Ainda, no interior desse artigo fala-se que a cidade forma parte da região Provenza-Alpes-Costa Azul (a forma oficial em francês é Provence-Alpes-Côte d’Azur).

As incoerências continuam noutros muitos artigos, polo qual convido as leitoras e leitores deste blogue a fazerem os seus testes, e convido as pessoas ‘ofendidas’ que se ponham na pele dos galeses (não é Gales, mas Cymru), britões (não é Bretanha/Bretaña, mas Breizh), dos catalães (não é Ampurdán, mas Empordà) e um longuíssimo et cetera.


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Comentários

4 comentários a “De galeguzos, wikipédias, isolo-reintegratas e espanholistas”

  1. Avatar de alema

    plas plas plas
    vexo que temos as cousas claras, o que pasa é que somos un pouco incomprendidos 🙁
    o que hai que deixar claro que o que é censurable é o uso de toponimia deturpada por parte de institucións públicas… iso si que non se pode consentir! 🙂

    só me queda unha dúbida, my friend
    ti dis que colaboras na wikipedia do teu idioma…
    cal é o teu idioma? 😀
    non me resisto a trollear 😛 😀

    1. Avatar de Galeguzo

      Bom, a redacção é ambígua, mas não me referia a mim. Queria dizer que uma pessoa não castelhano-falante molesta com as políticas da es.wikipedia, o que deveria é colaborar na wikipédia no seu idioma.

      Eu colaborei, ainda que brevemente, nalgum projecto wikipédico. Dous deles abandonei-os por falta de tempo (e polas minhas carências e limitações nesses idiomas), e os outros dous polo seu sectarismo, dependência do papel escrito ou enquadramentos mentais incompreensíveis numa enciclopédia de carácter nacional e na rede.

      Actualmente não colaboro em qualquer projecto similar, ainda que respeito quem o faça.

  2. Avatar de Oscar de Lis

    Concordo plenamente. A questão das toponímias adaptadas é fundamental e, aliás, está a criar uma forte controvérsia nalgumas ocasiões, se calhar por falha de conhecer a norma de referência. Tanto a RAG-ILG quando o A.O. indicam que, se existir forma adaptada, ela deve ser prioritária, e isso também serve para o espanhol, por suposto 🙂 – Se não a houver, o lógico é respeitar a forma vernácula, o que inclui, como bem dizes, as formas verdadeiramente vernáculas (ocitanas, catalãs, galegas, astures e as de todas as outras nações). O problema é quando essas formas são desconhecidas pelo grande público, que conhece, porém, as formas internacionalizadas através dos idiomas “estatais” (caso do Niça como Nice). Aí o problema é bem outro: é um problema de dominação, uma relação de força

    1. Avatar de galeguzo

      Pois é, Oscar. Concordo totalmente 🙂