Porquê para o ILG e a RAG não vale a palavra «vale»?

Mais uma amostra da incoerência do ILG e da RAG é a palavra vale (*val):

Vale1 s. m. (1) Terreno entre duas montanhas ou cordilheiras ao que afluem as águas procedentes delas e, geralmente, recorrido por um rio, arroio, etc., que as recolhe. (2) Planície à beira de um rio banhada por ele: o formoso e ricaz vale do Tejo. Vale anticlinal: vale que coincide com o eixo do dobramento da anticlinal. Vale suspenso: aquele cujo fundo está situado em nível superior a uma depressom adjacente, que pode ser outro vale, ou um lago, ou o próprio mar. Vale de lágrimas: o mundo em que vivemos. Correr montes e vales: afadigar-se para obter alguma cousa. Var. Val [lat. valle]. | Fonte: e-Estraviz

vale do douroConsultando no VOLGA, e também em dicionários de galego isolado (como algum Xerais), encontro-me com que não se recolhe esta palavra para a acepção assinalada anteriormente.

Trata-se de mais um caso em que uma palavra galega é coincidente com o português (sendo a mesma língua, só faltava que não coincidissem palavras!)… e o ILG e a RAG decidem que não, que melhor utilizar uma forma dialectal (e mais própria da oralidade que da escrita), que assim criamos mais uma pequena diferença para falar em duas línguas distintas (e justificar o salário, claro :D). Deste jeito, ambas as instituições apostam na palavra val.

Quando falo em que val é uma forma dialectal e mais própria da oralidade que da escrita não digo nada pejorativo, mas constato uma evidência. O galego oral tem grande tendência a emudecer as vogais átonas, em particular o “-e” final. Por exemplo, no verbo valer, a terceira forma do singular é mais habitualmente pronunciada como “val” do que como “vale” (“isso não me val” por “isso não me vale“). Porém, neste caso, ILG e RAG aceitam manter esse “-e”. Curioso e contraditório a um tempo, diria eu.

No mínimo, mesmo que prefiram a forma val, ILG e RAG poderiam ter a honestidade de recolherem vale como variante, mas nem isso se regista nas suas obras lexicográficas. E isto é especialmente grave quando vale é uma forma plenamente viva na oralidade, por não falarmos em que forma parte da nossa riqueza toponímica: *Valadouro (Vale d’Ouro, onde o -e se assimila com ‘a’), município da Marinha; Pruída do Vale, lugar do concelho da Fonsagrada; Mira Vale, lugar do concelho de Taboada; Vale, lugar e freguesia do concelho de Baralha ou Vale, lugar do concelho de Rio Torto. [Fonte: Nomenclátor da Xunta]


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Comentários

12 comentários a “Porquê para o ILG e a RAG não vale a palavra «vale»?”

  1. Avatar de Modesto

    Tamén é unha interxección cun significado semellante á da inglesa “OK”.

  2. Avatar de alema

    e por que lle pos un * á palabra “val”? por que en portugués non existe? mira que tes papo! 😀 supoño que non aceptan “vale” porque tampouco aceptan “tractore” ou “comere” por exemplo… formas tamén moi vivas no galego oral, por outra parte.

    e #1 “vale” con ese significado é castrapo para a reintegratada, xa cho advirto 😀

  3. Avatar de alema

    o fenómeno en cuestión chámase paragoxe
    http://gl.wikipedia.org/wiki/Paragoxe

  4. Avatar de galeguzo

    #1 Certamente.

    #2 Ponho-lhe um asterisco para marcar que é uma forma dialectal ou não preferente. Que em português não existe “val”?? Isso sim que é ter papo! Cumpre abrir as orelhas, mas a maior parte dos portugueses lê “val” no canto de “vale”. E não apenas isso, pois em Portugal existem os topónimos Valboa, Valdevez, Valbom ou Valongo (a AGAL recomendaria Val-Boa, Val de Vez, Val Bom e Val Longo), entre outros.

    Por outra parte, o caso de “vale” não tem absolutamente nada a ver com o “tractore” ou “mare”, porque nestes últimos casos o -e é paragógico, e ademais apresenta uniformidade dialectal, isto é, que em todos os casos de palavra finalizada em -r é acrescido o -e, como também o é nas palavras acabadas em -m (“bem-e”, “alguém-e”). Poderia-se alegar que provém directamente do latim, sem perda, mas há avondos testemunhos escritos relatando a perda desse -e 😀 Como apoio desta tese poderia remitir-me à sua ausência nos topónimos 😉 O -e de vale, porém, é totalmente oposto a este, mantendo-se desde o latim e alternando com a forma sem esse -e (porque a tendência do galego é de eliminar os -e finais átonos).

    E já por último, o uso de “vale” como significado de “de acordo” não tem por que ser castelhanismo, nem muito menos. “Vale” significa que algo serve ou é útil. Quando estamos de acordo com algo dizemos que “nos serve” (a cousa, pessoa, situação, etc.) ou é propícia. Ademais, em latim “vale” era… adeus 😀

  5. Avatar de galeguzo

    #1 Certamente.

    #2 Ponho-lhe um asterisco para marcar que é uma forma dialectal ou não preferente. Que em português não existe “val”?? Isso sim que é ter papo! Cumpre abrir as orelhas, mas a maior parte dos portugueses lê “val” no canto de “vale”. E não apenas isso, pois em Portugal existem os topónimos Valboa, Valdevez, Valbom ou Valongo (a AGAL recomendaria Val-Boa, Val de Vez, Val Bom e Val Longo), entre outros.

    Por outra parte, o caso de “vale” não tem absolutamente nada a ver com o “tractore” ou “mare”, porque nestes últimos casos o -e é paragógico, e ademais apresenta uniformidade dialectal, isto é, que em todos os casos de palavra finalizada em -r é acrescido o -e, como também o é nas palavras acabadas em -m (“bem-e”, “alguém-e”). Poderia-se alegar que provém directamente do latim, sem perda, mas há avondos testemunhos escritos relatando a perda desse -e 😀 Como apoio desta tese poderia remitir-me à sua ausência nos topónimos 😉 O -e de vale, porém, é totalmente oposto a este, mantendo-se desde o latim e alternando com a forma sem esse -e (porque a tendência do galego é de eliminar os -e finais átonos).

    E já por último, o uso de “vale” como significado de “de acordo” não tem por que ser castelhanismo, nem muito menos. “Vale” significa que algo serve ou é útil. Quando estamos de acordo com algo dizemos que “nos serve” (a cousa, pessoa, situação, etc.) ou é propícia. Ademais, em latim “vale” era… adeus 😀

  6. Avatar de alema

    #4 o asterisco é para marcar entradas que se consideran erróneas, xeralmente

    “pois em Portugal existem os topónimos Valboa, Valdevez, Valbom ou Valongo (a AGAL recomendaria Val-Boa, Val de Vez, Val Bom e Val Longo), entre outros.”
    ahí me dejaste muerta! 😀 que a AGAL lles recomendaría aos portugueses como escribir os seus topónimos!!?? simplemente escacho coa risa xD xD

    e finalmente… cando sacamos o debate do “bueno”, houbo moitos reintegratas de pro que aseguraron que expresións tipo “vale” e “veña” eran “castrapo”. non estou moi certo pero creo que en portugués internacional de Portugal, “vale” non se emprega como sinónimo de OK…

  7. Avatar de alema

    #4 o asterisco é para marcar entradas que se consideran erróneas, xeralmente

    “pois em Portugal existem os topónimos Valboa, Valdevez, Valbom ou Valongo (a AGAL recomendaria Val-Boa, Val de Vez, Val Bom e Val Longo), entre outros.”
    ahí me dejaste muerta! 😀 que a AGAL lles recomendaría aos portugueses como escribir os seus topónimos!!?? simplemente escacho coa risa xD xD

    e finalmente… cando sacamos o debate do “bueno”, houbo moitos reintegratas de pro que aseguraron que expresións tipo “vale” e “veña” eran “castrapo”. non estou moi certo pero creo que en portugués internacional de Portugal, “vale” non se emprega como sinónimo de OK…

  8. Avatar de galeguzo

    #5 Alema, o que tu fazes chama-se manipular. Eu digo que a AGAL recomenda (na sua proposta normativa) determinadas formas de escrever (nalguns casos, transcrever) os topónimos… mas obviamente refiro-me aos galegos. E a proposta de “Val de Vez” ou “Val Bom” é da minha colheita, aplicando o critério da AGAL, associação que, obviamente, apenas se pronuncia sobre os topónimos galegos (como Val-Boa, que existe no nosso país e ademais é um concelho do Berzo, oficialmente “Balboa” ;))

  9. Avatar de alema

    #6 ah! está ben esta aclaración… 😀
    pero acaba de darme unha idea.
    por coherencia, a AGAL debería poñerse en contacto coas autoridades portuguesas para que modifiquen os seus topónimos a AGAL-style. ai, non… que os reintegratas só dan o coñazo no reino de España 😀 xD

  10. Avatar de one2
    one2

    acho que o «vale» com significado de «ok» só se usa em Espanha polo que eu si considero que é influéncia do castelão e portanto um castelanismo a evitar.

  11. Avatar de alema

    suxiro crear unha máquina chamada “castrapo-detector” 😀 e vendela na teletenda 😀

  12. Avatar de galeguzo

    #8 Certamente podemo-lo evitar.

    #9 Mmmm… numa tele-loja reintegrata? 😀