Hoje despertei com um sentimento diferente. Após digerir o lema Mais força em Madrid, hoje sinto-me profundamente espanhol… e profundamente indignado.
Sim, afinal calharam em mim todas as consignas e apelos patriótico-mobilizadores do PPSOE, o único e verdadeiro partido, aquele que é UNO e DUO sem que a sua existência se dilua (isto já será, ao seu devido tempo, objecto de um artiguinho).
O caso, recapitulando, que hoje despertei cheio de fervoroso e devoto sentimento espanhol e tive uma revelação (como dizia aquele anúncio do Ronaldinho que não dei encontrado :p) que me fez sentir solidário com Galicia Bilingüe. Desde hoje, uno-me contra os nacionalismos totalitários e excludentes e reivindico uma Galiza bilíngue e uma Espanha multilíngue. Farei a prova (mental)…
SÓRIA (Castela, Espanha), numa sucursal bancária…
— Bon dia, em pot ajudar?
— Perdone, no le entiendo…
— Disculpi; li demano si em pot ajudar…
— Es que no le entiendo… En castellano, por favor…
— Som a Espanya, és que no li puc parlar en català, la meva llengua espanyola?
— Hábleme en español, por favor, que estamos en España.
— Ja el sé que som a Espanya, i si jo sóc català, doncs, sóc espanyol, i el meu català no n’és espanyol també? No li en puc parlar català?
— Mire, váyase a tocar los co… de su p… madre, que no le entiendo. ¡¡SIGUIENTE!!
MÚRCIA capital (Espanha), num estabelecimento qualquer…
— Gabon… [o resto do diálogo seria em basco, que polas minhas limitações não vou reproduzir, mas o tom é sereno e cordial]
— Perdone, es que no le entiendo…
— … [o diálogo continua em basco, igualmente cordial e, se calhar, mais respeitoso do que ao início]
— ¿En qué idioma me habla, en chino? En castellano, por favor, que estamos en España…
— Le hablaba en vasco, ¿es que no se puede?
— ¡¡’Mecagüen’ el vasco de los co…!! ¡’Jodío’ separatista! ¿Te quieres reír de mí o qué?
— Lo siento, no era mi intención ofenderle ni hacerle perder el tiempo. Simplemente quería ejercer mi derecho a no ser discriminado en mi país y a poder hablar en mi lengua, igual que usted en la suya…
— ¡Estamos en España! Y no tengo obligación de entender su jerga…
— Perdone, pero no es una jerga, es una lengua oficial…
— ¡Mire! ¡En español nos entendemos todos, ¿vale?!
— Y en Euskadi nos entendemos todos en euskara, ¿hablaría nuestra lengua si estuviésemos allí?
— El País Vasco es España, ¡y en España se habla español, co…!
CANTÁBRIA (Espanha), num restaurante qualquer…
— Buenas noches, caballero.
— Mui boa noite. Para cear queria…
— ¿Perdón?
— Perdão por quê?
— Perdone, es que no le entiendo…
— O que é que não entende?
— No entiendo lo que me dice.
[Reparo em que a carta está em castelhano, francês e inglês. O meu inglês é bastante deficiente, mas alô vou igual]
— I’m sorry, I want… [peço a ceia em inglês macarrónico]
— Yes, Mister, all right.
— Escuite, você fala inglês muito bem.
— ¿Perdón? [Já estamos às voltas com a mesma cantinela…]
— Off course, sorry… You speak english very well…
— Thank you very much, Mister.
— Porém, porquê tanto interesse em falar uma língua estrangeira, como o inglês, e não uma das nossas línguas espanholas, como o galego?
— ¿Perdón?
— O que perdoa não cobra… Le decía que… [traduzo-lhe todo o anterior para o castelhano]
— ¡Pero si usted sabe hablar español y es español! ¿Para qué tanto rodeo con el inglés y ese ‘chapurrao’ si en español nos entendemos todos?
— Porque España es plurilingüe y me gusta vivir en mi idioma, como usted en el suyo, sin imposiciones.
— ¡¡Pero si estamos en España!!
— Se isso é precisamente o que já lhe disse…
— ¡¿Perdón?!
— O que perdoa não cobra… nem leva gorjeta!
* * * * * *
Após viver esta simulação (tudo ocorre na minha cabeça), sinto-me mais solidário do que nunca com Galicia Bilingüe: odeio os nacionalismos totalitários e excludentes, a começar polo nacionalismo espanhol.
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