Lavacolha, Compostela (Galiza); 20/05/2006
12:57 PM (a olho)
O jornalista intrépido vai cobrir um acto do autarca compostelano em memória dos milhares de pessoas anónimas que se vírom na obriga de realizar trabalhos forçados na zona para a construção do actual aeroporto internacional da Lavacolha.
Música, representes do Governo municipal, vizinhos, sindicalistas, imprensa, chuva…
Sánchez Bugallo fala da ‘memória histórica’; de não procurar justiça, mas exercê-la; de acabar com a divisão que implicárom a guerra e a ditadura. Falou palavras bonitas e de agradecimento para os democratas da época (1939).
13:00 PM (ou assim, pola pouca, pouca fame)
Uma moça achega-se-nos aos representantes dos meios de comunicação e pede-nos para nos afastarmos do microfone onde fala o autarca para recolhermos o som pegados a uns altifalantes e assim “no molestar a los cámaras de la televisión”. Eu digo-lhe que não posso sair com o áudio a meio recolher e que, ademais, temos direito de que os logótipos da empresa saiam nas câmaras (vamos, direito a justificarmos um bocadinho o soldo). A rapariga marcha sem dizer mais nada e continuamos o nosso trabalho.
13:03 PM (por aí seria)
A rapaza volta e pede de novo para nos afastarmos e gravarmos o som desde os altifalantes, que “se escucha bien y no molestáis”. Pois nada, levamos os nossos aparelhos para outra parte.
13:05-13:10 PM (mais ou menos)
Dou a volta um momento e vejo uma dúzia de pessoas a se manifestarem (em silêncio) com três faixas reclamando um Plano Geral de Ordenação Municipal justo, transportes públicos e recuperar a memória do antigo concelho da Enfesta. Levam as bocas tapadas (daí o silêncio) e o pessoal mira-os de reolho. Farto de gravar o altifalante (preferia o baixifalante), colho o microfone e vou ver de que se trata.
Um deles tira o esparadrapo da boca e conta-me que os vizinhos da Enfesta também se sublevaram contra os fascistas e que um dos castigos foi a supressão do Concelho e a sua integração em Compostela. Reclamam que o autarca, Sánchez Bugallo, “nos receba”, dote a zona de infra-estruturas “e nos dê os mesmos direitos que aos demais cidadãos de Santiago”.
Após recolher o seu testemunho regresso ao altifalante. De caminho, um homem que saiu do grupo das ‘autoridades’ comenta-me em voz baixa “isto é uma vergonha; esta gente não tem serviços nem tem nada; estão deixados de tudo”. O altifalante prossegue: “recuperar a memória destas pessoas é um acto de justiça histórica”. Parece que não perdim muito do discurso. “¿Qué querían esos?”, perguntam-me. “Transportes, PGOM e serviços em geral”, respondo. Ou, talvez, que alguém os escuitasse.
Bonus track
13:15 PM
Hora de inaugurar a placa na memória dos condenados na Lavacolha. Está situada justo diante dos manifestantes. O alcaide ordena tocar o hino galego; um par de pessoas pedem a berros “¡El de Riego! ¡El de Riego! ¡Naná, na-na-na-naa-na, na-naa na-na-na-naaa na-na…!”. Bugallo, inflexível, “o galego;e quem quiger o de Riego, que o cante depois”.
Após o hino, o alcaide parece não estar seguro de querer baixar; fala com os seus colegas do Consistório municipal e afinal acaba por cumprir com a suas obrigas protocolares. Silêncio total por parte dos vizinhos da Enfesta.
+ Eis como o recolheu a imprensa:
Comentários
2 comentários a “Enfesta quer que a escuitem”
Creo que sei quen é a rapaza que vos dicía iso polo micro… e boa rapaza, pero son esixencias protocariais… de tódolos xeitos, co que chovía pola mañá, que ganiñas de ir ata alí a mollarse…
Unha cousa, sabes como modificar a plantilla do blog para que suban para arriba os links que teño postos no meu blog??
Bicos
Creo que sei quen é a rapaza que vos dicía iso polo micro… e boa rapaza, pero son esixencias protocariais… de tódolos xeitos, co que chovía pola mañá, que ganiñas de ir ata alí a mollarse…
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Bicos