Faz sentido alargar até 2021 as homenagens oficiais a Ricardo Carvalho Calero com motivo das Letras Galegas? A mais grave pandemia em cem anos devera obrigar a Real Academia Galega a mudar as suas tradições de maneira excepcional? Vou colocar, a seguir, alguns argumentos a favor e contra esta hipótese.
CONTRA
- A tradição determina que cada ano será homenageado um único autor ou autora.
- O difícil consenso. Demorou uma década, desde 2009 até 2019, para a Real Academia Galega ceder ao crescente clamor social e à contestação interna e designar 2020 como Ano Carvalho Calero.
- Alargar as celebrações implicaria abrir um precedente e a Academia não gosta de quebrar as suas normas. Como muito, pode fazer alguma cessão. Por exemplo, em junho de 2012 anunciou que as Letras de 2013 seriam para o dramaturgo Roberto Vidal Bolaño, apesar de restarem ainda três meses para atingir um dos requisitos (Bolaño falecera em setembro): «En calquera caso deben pasar dez anos entre a súa morte e a designación para ese día» (capítulo 2.º, artigo 7.º dos Estatutos da RAG). Também este ano cedeu ao adiar do 17 de Maio para 31 de outubro o ato institucional central —afinal, também suspendido.
- No franquismo estávamos pior e a alegada falta de visibilidade ou os problemas de aprofundar na figura já se davam na altura, mesmo apesar de Franco ser académico numerário da instituição (até 2009).
- A pandemia não garante o nível nem a continuidade das homenagens, quer no que resta de 2020, quer em 2021. E se em 2020 foi prejudicado Carvalho Calero, em 2021 pode-o ser o mesmo autor ou outra figura.
A FAVOR
- As tradições estão para ser quebradas quando houver circunstâncias excepcionais. Uma pandemia é uma situação excepcional, que provocou a suspensão de eventos muito consolidados em todo o país, que não puderam celebrar as edições de 2020 e provavelmente tampouco as de 2021. Alguns deles, nem sequer interrompidos por factos tão graves como uma guerra.
- Finalizar as homenagens em 2020 seria uma discriminação respeito de uma pessoa que já fora discriminada no final da sua vida e também nos dez anos de campanha social e institucional prévios à eleição como autor homenageado. Não houvo homenagem no 17 de Maio e tampouco a houvo no dia 31 de outubro (dia posterior ao 110.º aniversário do nascimento de Carvalho).
- A suspensão das aulas entre março e junho impediu difundir como é devido Carvalho Calero no ensino, contrariamente ao que vinha sendo costume. O frenético ritmo no começo do novo curso, encetado em setembro, tampouco está a permitir dedicar tempo, como pode corroborar qualquer professor/a de Literatura Galega.
- As restrições sanitárias e à mobilidade dificultam a realização de alguns dos principais atos, entre os quais a circulação e visita da amostra promvoida pola AGAL ou a leitura continuada do Scórpio —este último ato, já adiado de maio para outubro, e agora sem data.
- Carvalho Calero não é qualquer pessoa. «Dom Ricardo», como era conhecido polos seus alunos e alunas, foi um galeguista de gema e foi secretário do Seminário de Estudos Galegos, de cujos frutos bebêrom várias gerações galeguistas. Foi também um dos redatores de anteprojeto de Estatuto de Autonomia (1931), sem o qual a Galiza não poderia ter acedido em 1981 à autonomia de «via rápida» (recolhida no art. 151.2 da Constituição espanhola). A sua trajetória política, o seu compromisso antifascista (luitou na guerra contra Franco e conheceu o cárcere), a sua enorme obra literária e historiográfica, além do seu labor docente em Lugo e Compostela, levariam-no a receber receber no final da sua vida o título de filho predileto de Ferrol (1990) e, postumamente, o de filho ilustre da Galiza (1996).
Posicionando-me claramente a favor, findo este artigo indicando que a figura histórica e o legado presente de Carvalho Calero é de uma dimensão tão grande que as homenagens não se podem limitar a um ponto riscado num expediente. Também não basta um só ano de homenagens para reparar as décadas de ostracismo —em vida e em morte— padecidas por este ilustre filho da nossa terra. Carvalho Calero será homenageado em 2021, com a RAG ou sem a RAG. Só à Real Academia Galega caberá decidir se prefere ficar do lado das homenagens ou do lado da ignomínia.
Comentários
2 comentários a “Carvalho Calero 2021. «Dom Ricardo» não é mais um homenageado”
«A mais grave pandemia em cem anos … »
A sério? Ele-pagam-che pra espalhares as mentiras e as pantasmas? Umha pandemia existe quando hai mortos e doentes, nom quando se argalha um teste que só dá «positivos asintomáticos» e quando a média dos mortos COM esse conavírus é superior à longevidade média da povoaçom.
A lavagem cerebral que tendes impede-vos mesmo de abrir os olhos à evidência quando se vos pom em diante dos olhos:
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|…..FRAGMENTO EDITADO..|
|…..PARA APAGAR LIXO……..|
|……’PLANDÉMICO’……………|
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(__/) ||
(•ㅅ•) ||
/ づ
Nom esqueçamos que o reintegracionismo sempre combateu o preconceito, por princípio. Combatir a censura e mentira na língua e propagá-la noutros eidos nom é consequente nem moralmente correto.
Olá, Conavirus, também conhecido como Roi Ben a Choiva. Que venhas aqui a falar em moral e mentira, e a seguir negares a evidência científica e amostrar uma inensibilidade atroz respeito dos centos de mortos e milhares de doentes de todas as idades que padecêrom dias nos cuidados intensivos, alguns ficando com severas sequelas… Retratas-te sozinho. Pola minha parte, não vou permitir no meu blogue nem pseudociência, nem que um retardado minimize as graves consequências sanitárias, sociais e humanas de uma pandemia. Espero que a tua lavagem cerebral ‘plandémica’ tenha cura antes de perderes algum ser querido ou dares com o teu ‘plandémico’ cu numa UCI.