Calotes informáticos para conseguir mais visitas web

Nos últimos tempos estou cada vez mais irritado com esta prática: verdadeiros calotes informáticos para conseguir mais visitas a um sítio web. Acho moralmente reprovável facilitar que o teu público seja redirigido para uma estafa cibernética em troca de ganhar mais tráfego para a página de um jornal.

Poucos meios de comunicação estão isentos desta prática daninha que os Colégios Profissionais de Jornalistas e os reguladores publicitários deveriam capar de vez. Para ilustrar o artigo vou pegar só nalguns exemplos de meios de comunicação editados na Galiza e noutros pontos do Estado espanhol.

Taboola

Um dos principais jornais galegos, bem como muitos do Estado (como os do grupo Unidad Editorial) utiliza os serviços de Taboola Feed. Ao entrar numa notícia qualquer do jornal, no pé aparece o bloco do conteúdo recomendado por Taboola. O primeiro resultado, polo menos nos casos em que experimentei, é uma notícia do próprio jornal. Os restantes alternam conteúdo do próprio sítio com outro externo. Neste último caso, alguns resultados correspondem a páginas normais (como o web de uma companhia automobilística) com outros de potenciais estafas.

No exemplo que passo a analisar está este anúncio: novos iPhones até 50% mais baratos. Taboola leva-nos para este local: https://blog.revistadelconsumidoronline.com. Depois de uma breve pesquisa, o mesmo conteúdo aparece noutros locais diferentes, como mínimo desde o ano 2017: https://blog.consejos-tecnologia.com, http://ww2.revistadelconsumidoronline.com e http://noticiasytop25.blogspot.com. Todos esses sítios web são essencialmente para a mesma finalidade: intermediar entre o potencial estafado e o sítio web final. Agem como uma landing page em que se apresenta o produto, recolhem-se testemunhos ou analisa-se de maneira supostamente objetiva o funcionamento. Convencida a pessoa, chegam para o local final. No caso do meu teste, o sítio é subastavip.es.

Uma excelente estratégia publicitária consiste na proximidade e em associar uma ideia com um rosto. Neste caso, o sítio web intermediário inventa a redatora Sofia Romero, a qual escreve sobre tecnologia para vários blogues… Bom, realmente blogues clónicos que publicam o mesmo conteúdo com diferentes endereços. E a tal Sofia Romero é qualquer pessoa… Menos Sofia Romero!

Carregando a imagem da redatora na pesquisa de imagens do Google (ação muito recomendada para dar luz a numerosas estafas, fraudes e enganos), verificamos que a jovem é uma modelo e que a fotografia que pertence ao estoque de imagens da Adobe (coloquei uma seta acima da empregue no sítio web).

O facto de usarem uma identidade fictícia (Sofia Romero) com uma fotografia procedente de um estoque de imagens já é mais do que suficiente para termos cuidado e bloquearmos este endereço, bem como o sítio web que se beneficia do engano (subastasvip.es). Com isto não entro a valorizar se subastasvip.es é um sítio web seguro.

Outbrain

Vários cabeçalhos do Grupo PRISA utilizam Outbrain. Este intermediador, polo que pudem verificar, tem uma estratégia diferente. Entre as recomendações costuma incluir sítios que se anunciam mediante a técnica do caça-clique (blickbait). Uma vez mordida a isca, chegas a um sítio web que che conta uma história, dividida em várias páginas, onde irás tragando toneladas de publicidade até chegar ao fim (se chegares).

É como um terrorismo de baixa intensidade, mas em termos publicitários. Aí, o principal perigo pode ser morrer de tédio ou cair na estafa de algum dos anúncios que passarem por diante!

Smartfeed

Smartfeed é uma das marcas de Outbrain e une o melhor dos dous mundos: o clickbait que te leva a páginas de anúncios intermináveis junto com a intermediação cara a potenciais calotes.

O de investir em Amazon (ou qualquer outra empresa de nome conhecido) é um dos mais velhos calotes. E este fica mais ao descoberto quando os potenciais ganhos têm um incremento brutal e exponencial. Se chegaste aí: FOJE!

Conclusão

Com certeza, há muitos mais sítios como Taboola e Outbrain. Também há agências de publicidade com poucos escrúpulos que alugam espaços na imprensa digital para colocarem aí, sem aviso prévio, anúncios das mais vergonhosas estafas. É pouco provável uma pessoa com certa cultura digital cair nessas estafas, mas ninguém está totalmente livre de ter um mau dia ou cair num sítio web de aparência totalmente saudável, mesmo acabar no clone da web da sua entidade bancária.

Mas, como dizia no começo, aqui falamos de anúncios ou conteúdos patrocinados que aparecem em sítios web de meios de comunicação, os quais, para além de serem empresas, deveriam atender às regras de um serviço público, já que se movem ao abeiro de um direito fundamental reconhecido no ordenamento jurídico que nos é de aplicação. E isto não pode continuar assim.


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