#AnaPresidentA

Na minha vida fum ativista de muitas cousas e militante de poucas. De facto, só militei e milito na língua (AGAL), no ensino público (na minha AMPA) e na política (BNG). Apoiei e apoio muitas outras causas, como a luita labrega por uns preços dignos, a deseucaliptização da Galiza, o jornalismo comprometido e em galego, a cultura de base, a música popular, os saberes científicos, a luita contra a megaminaria e muitas mais. Considero-me uma pessoa crítica, às vezes crítica de mais, o que me tem impedido muitas vezes comprometer-me mais do que seria necessário num projeto e restringiu muito as minhas possibilidades ou querenças militantes.

Desde 2007

Entrei a militar no BNG em 2007, em pleno Governo bipartido, porque era crítico com as cousas que —na minha opinião— se estavam a fazer mal (como se pode verificar no histórico deste blogue). Considerei que podia contribuir mais à sua melhora estando dentro do que estando fora; também, que poderia compreender melhor os processos que desembocavam numa ou noutra direção.

Para a tomada desta decisão foi determinante a existência da organização juvenil Isca!, da qual já conhecia algumas pessoas e que para mim eram nessa altura referentes do que o BNG devia ser. Isca!, para quem não souber, é a organização juvenil vinculada ao Movimento pola Base, um dos coletivos internos do BNG. Naquela altura essa interdependência não era orgânica —só foi formalizada uns tempos mais tarde—, mas era tácito. Portanto, se eu simpatizava com a gente de Isca! e estas pessoas eram —na meirande parte— militantes de Galiza Nova, a organização juvenil do BNG, também eu o podia ou devia ser. Foi assim que, com o aval de mais dous militantes de Isca!, foi aceite o meu pedido de adesão a Galiza Nova, o qual significava automaticamente a minha militância no BNG. Eram já finais do ano 2007.

No entanto, a minha militância foi mais bem passiva nesses tempos. Participei nalgumas assembleias locais ou nacionais, quer de Galiza Nova, quer do BNG, também nalgum ato ou campanha, mas pouco mais. Ora bem, nunca falhei na hora de deixar fielmente o meu voto em cada comício e de pedir o voto para esta organização, que eu acreditava ser, se não a melhor, polo menos a menos ruim das opções.

Contudo, as dinâmicas de Galiza Nova, que cada vez me resultavam menos interessantes, junto com o esmagador uso da sua maioria por parte da UMG —as juventudes da UPG—, que dificultavam que prosperassem quaisquer teses críticas, levárom-me pouco a pouco a reduzir a minha participação nos processos internos.

O incerto mundo pós-Âmio

Porém, chegárom o ano 2012 e a convulsa assembleia nacional de Âmio em que o BNG estourou por toda a parte. Também aí estivem eu, nos longos dous dias que durou, 28 e 29 de janeiro. Lembro nitidamente o cruzamento de reproches, as candidaturas apresentadas, as emendas aprovadas e rejeitadas. Lembro, com clareza, o Beiras dirigir-se ao povo bloqueiro assegurando que «se me fazeis este sem-favor, de nomear-me porta-voz nacional aos meus anos [tinha 75, agora 84]», trabalhar pola unidade da organização. Também, afirmar que, no caso de não ser eleito, não romper a organização, cousa que acabaria fazendo dali a duas semanas.

Para mim, também essa assembleia foi um ponto de inflexão e de reflexão. Se o Encontro Irmandinho anunciava a 12 de fevereiro que abandonava o BNG, aos dous dias eu pedia a baixa de Galiza Nova para pagar a quota dos velhos, a quota normal de militante do BNG. Afinal, já esmorecia a minha juventue e só adiantava um pouco no tempo uma medida inevitável. Mas julgava que o pau económico para o partido seria grande —como assim foi— e que toda ajuda seria necessária. Portanto, com o pretexto de pagar uma quota ligeiramente maior, também abandonava a pertença a uma organização juvenil (GN) em que não me sentia à vontade. E, para que negá-lo, as minhas preocupações já distavam muito das de um moço.

Nos seguintes anos vivim com incerteza os processos de recomposição da esquerda. De supetão, muitas das minhas melhores amigas e amigos já não formavam parte da mesma organização política, começávamos a ter posicionamentos divergentes, às vezes contraditórios, sobre questões em que antes estávamos de acordo. Isto também me suscitou um lógico dessassosego e um constante sentimento de orfandade.

Entre 2012 e 2013 morei em dous lugares diferentes da comarca compostelana, mas já fora da capital depois de uma década. A distância física também acrescentou a minha distância emocional sobre certos processos. Porém, também tivo cousas novas, como começar a participar com certa frequência numa assembleia local do BNG, algo que em Compostela não me quadrava bem de tudo por horários ou localizações. Foi uma experiência nova estar numa assembleia em que nenhum dos rostos saía pola tele ou escrevia nos jornais, com gente normal —sem vontade de ofender—, com as suas preocupações do dia a dia, e militantes da causa nacional galega.

Mas também ali acabariam chegando as rupturas em 2015, também alimentadas pola constante recomposição do espaço dito rupturista. E En Marea parecia emergir como a alternativa natural ao BNG, um projeto «esgotado», segundo repetiam constantemente vozes que até daquela me eram próximas. E eu passei um período de indefinição entre 2015 e 2016 em que não sabia o que faria politicamente no dia a seguir. Várias vezes me dei ultimatos ou soltei algum alegato público, prometendo que «se a partir do dia X acontecer Y, deixo a militância». Mas sempre com a clareza de que não iria militar mais num partido, menos ainda num sucedâneo do que fora o BNG.

O «efeito Pontón»

Passadas com mais pena que glória as porta-vozias nacionais de Guillerme Vázquez (2009-2013) e Xavier Vence (2013-2016), acolhim com agrado a escolha de Ana Pontón como nova porta-voz nacional (fevereiro de 2016). Sabia do seu bom trabalho do Parlamento e representava um sopro de ar fresco, tanto por idade como por ser mulher: visualizava-se que algo mudava. Contudo, também havia vozes críticas e temorosas com a sua condição de membro da UPG e lembravam que os melhores resultados para o partido foram com porta-vozes nacionais que não pertencessem à «U»: Xosé Manuel Beiras, com quem se logrou ser segunda força política, e Anxo Quintana, com quem se logrou entrar no Governo.

Seja como for, o panorama semelhava muito complicado para ela e para o partido: pilotar aquela nave era qualquer cousa menos uma viagem tranquila. Para começar, à volta do verão havia eleições e muitos inquéritos deixavam o BNG sem grupo parlamentar próprio. Os grupos parlamentares galegos precisam estar compostos de polo menos cinco deputados e deputadas. O BNG, com Francisco Jorquera de candidato, descera de 12 para 7 assentos nas eleições de 2012… e os inquéritos mais generosos davam 5 assentos ao BNG —no limiar mesmo do grupo parlamentar—, mas muitos deles reduziam a cifra para 2 ou 3. Ao mesmo tempo, da órbita do seu antecessor no cargo, Xavier Vence, fazia-se campanha implícita ou explícita a favor de En Marea e, em todos os casos, campanha contra Ana Pontón.

E quando mais difícil parecia o horizonte para o BNG, o debate eleitoral de 12 de setembro de 2016 constituíu uma exibição dialética da para muitos ainda desconhecida candidata Ana Pontón. O «efeito Pontón», dariam em chamar muitos analistas nos dias e meses seguintes.

Seis nomes imprescindíveis

Esse «efeito Pontón» levou o BNG a dar a volta aos inquéritos e reafirmar o grupo parlamentar próprio con 6 assentos, seis nomes indispensáveis para suster o projeto nacionalista durante uma legislatura difícil: Ana Pontón, Xosé Luís “Mini” Rivas, Olalla Rodil, Montse Prado, Luís Bará e Noa Presas. O trabalho destas seis pessoas imprescindíveis recentrou-me e reafirmou-me, mais ainda sendo uma delas a Noa, com quem partilhara pertença em Isca!, e a quem teria votado sem duvidar se não fosse que se apresentava por uma outra circunscrição eleitoral (Ourense).

Em qualquer reivindicação justa, em qualquer conflito social, ali estava algum destes seis rostos. Mas não se limitárom a fazer a foto, como outros, não, senão que levárom mais de uma vez ao Parlamento a voz dos indefensos e dos oprimidos. Com veemência, usárom o Parlamento para o que deve ser, que é para deixar o Povo falar através dos seus representantes. A Ana, o Mini, a Ollala, a Montse, o Luís e a Noa fôrom a mais firme oposição ao Feijóo nos últimos três anos e pico.

O seu mérito, junto ao demérito de outrem, situa o BNG de 2020 perante um cenário muito diferente ao de 2016 no que diz respeito da sua posição institucional e situação orgânica, caraterizada pola progressiva recuperação e coesão, tanto em pessoas como em ideias. As ideias, que são o fundamental em qualquer projeto social, anovárom com novas formas de comunicar, que vão do redesenho da imagem corporativa à focagem das campanhas: mais memes em redes sociais e maior peso do audiovisual, em detrimento de sissudas reflexões que não lê a gente normal.

Alternativa ao Feijóo

O BNG, situado de novo no tabuleiro como alternativa sólida ao bipartidismo espanhol —sem querer desmerecer outras propostas—, tem a oportunidade real de se situar, como nos tempos de Beiras, como segunda força mais votada e, como nos tempos de Quintana, ser a alavanca que permita botar o PP do Governo.

As eleições de 12 de julho —se chegarmos— terão lugar no contexto social e económico mais convulso que lembramos os nascidos depois de 1978. A pandemia da COVID-19 já obrigou a suspender uma vez estes comícios, fixados inicialmente para 5 de abril. E agora, a poucos dias da data das votações, a comarca da Marinha está isolada por um surto descontrolado que o Feijóo pretende reduzir a só três concelhos. Ou seja, escrevo isto a 8 de julho —de manhã— com um cenário absolutamente volátil, com muita gente com medo a votar ou com resistências a fazê-lo.

Como um vírus, também o medo se contagiou no PP, que vê com pavor um crescimento da abstenção no seu eleitorado tradicional, ao tempo que pode haver fugas pola sua (extrema-)direita, como já se viu nas eleições gerais de novembro de 2019, quando perdeu mais de cem mil votos extremistas. O PP, as mais das vezes confundindo-se com o Governo galego, está a suar quantas ferramentas legais, alegais e ilegais tem ao seu alcance para ganhar estas eleições, quer seja untando suculentamente os meios de comunicação concertados —como bem definírom alguns analistas— desde as semanas prévias, mediante o assinamento de convénios de vários milhões de euros; quer seja fazendo anúncios de governo quando a normativa eleitoral o proíbe explicitamente; quer seja pagando abondosa publicidade na imprensa tradicional e na virtual para espalhar a mensagem de que a sua maioria absoluta não está conseguida se persistem as hemorragias de votos neoliberais e ultraespanholistas.

Mas nalgo dou a razão ao PP e ao Feijóo: não está tudo feito, menos ainda até depositar o voto numa urna. Porque o resultado destas eleições não o pode antecipar ninguém, mesmo quem na noite do dia 12 exclame «isso já o dixem eu». O resultado vai-se determinar por uma conjunção de variáveis de peso dificilmente calculável, quer sejam o medo ao contágio, a abstenção ou a fragmentação de voto. A fragmentação e a abstenção prejudicárom historicamente a esquerda, mas agora também poderia danar fatalmente a direita. A única certeza que temos é que um voto maciço à esquerda é a única possibilidade de evitarmos mais quatro anos do Feijóo, de manipulação dos nossos meios de comunicação públicos, de ausência de políticas industriais, de desmantelamento da nossa educação e da nossa sanidade, da destruição do nosso património material e imaterial, de políticas linguicidas…

O BNG é, para as direitas, o inimigo a bater, por isso as suas faixas são destruídas e roubadas, por isso os seus murais são apagados com pintura, por isso os seus cartazes são arrancados e esborranchados, por isso o BNG é vítima das mais grosseiras manipulações informativas da nossa rádio e televisão públicas.

Por isto tudo, e por muito mais, estou com o BNG e com #AnaPresidentA. Na minha sempre modesta e crítica opinião, representam a melhor alternativa para conseguir essa Galiza com que tanto levo sonhado nos últimos anos e que se parece à do PP como um ovo a uma berça. Ninguém me vai representar melhor nos vindouros anos!

Agradecimentos

Grato ao amigo Daniel Vasques por me inspirar, com as suas reflexões, este artigo.