Um ano de nova-velha política nos governos municipais

As últimas eleições locais fôrom a 24 de maio de 2015. Passou-se, portanto, um ano. No caso da maioria de cidades e de muitas vilas do País, chegárom ao poder os chamados governos da mudança, a nova política que vinha para varrer o velho: novas formas de gestão, aposta polo bem comum, o público acima de tudo, corte do gasto supérfluo, investimento em políticas sociais, orçamentos participativos, maior participação e capacidade de decisão vicinais, etc.

O tempo é uma excelente medicina política, com a virtude de situar cada quem no seu devido lugar. A cacarejada nova política aginha se miscigenou muito com a velha, chegando nalguns casos mesmo a parecer pior, porque polo menos a velha política ia/vai de frente com os seus defeitos —alguns somos tão velhos que até valorizamos isso!

Do prometido pola nova política, mais bem pouco. Não quero dizer que não governassem e tomassem medidas, porque é claro que governárom e as tomárom, mas poucas —pouquíssimas— passariam hoje o filtro autoimposto pola Nova Política ™: são medidas perfeitamente assimiláveis às da velha política.

Os governos da mudança podem argumentar que nenhum deles tivo maioria absoluta ou que, em muitos casos, se encontrou com pouca ou nula cooperação por parte dos grupos da oposição. Mesmo isto sendo —bastante— certo, é certo também que faltou vontade de entendimento por parte dos próceres da Nova Política ™, como se só eles estivessem na posse da verdade —que não maioria— absoluta.

A sua incapacidade para se entenderem com a oposição ou, polo menos, com essa parte da oposição com que têm uma visão comum sobre os assuntos sociais e municipais, chama a atenção. É espantoso que os alcaides da mudança das grandes cidades tenham mais vontade de se encontrar e tecer alianças com as forças que governam noutros pontos do Estado (designadamente Barcelona, Madrid, Valência e Saragoça) do que com forças políticas de cujo eleitorado —precisamente— mais se nutrírom e, portanto, mais pontos de encontro deviam ter.

Analistas políticos melhor ou pior intencionados coincidem numa cousa: os alcaides da mudança parecem mais preocupados polas políticas de grandes gestos, por aparentar mudança, do que em torná-la efetiva, mesmo que isso os leve a colocar o seu foco bastante além dos territórios que governam, como seu os seus domínios fossem peccata minuta.

Passou-se, dizia inicialmente, um ano. Um ano anódino, de frustração de quem realmente ansiava uma verdadeira mudança. A uma débil posição de governo cumpre somar os ataques incessantes por parte dos desbancados do poder —o PP— e dos desbancados como primeira alternativa ao PP —o PSOE— e a que os poderes fácticos e mediáticos maximizam —com toda legitimidade— qualquer erro e incoerência para os desgastar, inclusive nalguns poucos casos chegando à mentira e à manipulação mais nauseabundas.

Eu encorajo os governos da mudança a se deixarem de política das palavras para passarem à política dos factos. Abandonem a conceção messiânica do seu labor e, a partir da humildade, teçam as alianças que a lógica sociopolítica ditamina. Compensem a sua posição de debilidade reforçando o seu músculo, estacionem o verbo incisivo e substituam-no polo reflexivo, anteponham a generosidade ao orgulho, situem o sentidinho de lado do bem comum e pensem as cousas duas vezes antes de as fazer e três antes de as dizer.

Se conseguem fortalecer os governos da mudança, as suas políticas serão melhor planificadas, nutrirão-se de experiência, reduzirão os frentes abertos e poderão, realmente, governar para mudar as cousas. Minimizarão os erros, maximizarão os esforços e debilitarão os verdadeiros inimigos, os que se obstinam para que nada mude. No caso contrário, daqui a três anos acontecerá-lhes o que ao bipartido galego, que não soubo reagir à que lhe vinha acima. Contam com mais três anos, ainda há tempo para fazer as cousas bem. Não é velha ou nova política, é política, caramba!


Publicado

em

por

Etiquetas: