Uma / umha / ũa cousa che vou dizer…

Nos últimos dias, muito se debateu em certos espaços da internet galega acerca de ortografia, especialmente sobre a possibililidade de uma confluência reintegracionista. Tem havido argumentos a favor, argumentos contrários… Inclusive tem havido opiniões sem argumentar (mas tanto tem, que para algo somos galegos e galegas!!). Se a dita confluência não for possível, tampouco se passará nada, porque as nossas vidas serão exatamente igual.

Não vos vou enganar: eu sou das pessoas que está a favor de uma possível confluência. Daí que no presente artigo me dedique a criticar um dos argumentos contra a confluência. Crítica com todo o carinho e respeito que caraterizam os meus comentários 😉

Uma / umha / ũa

Para certas pessoas, a possibilidade de que na norma reintegracionista do galego se admita a forma «uma» para representar o «número cardinal, adjetivo, pronome e artigo indefinido feminino» resulta um obstáculo insalvável.

Na minha humilde opinião, fazer um problema com a representação gráfica galega da palavra «uma» (uma, umha… ou ũa?) é algo tãaaaao estéril que nem devera merecer mais comentário.

O fonema consonântico nasal velar é um traço distintivo do galego-português da Galiza, mas de tooooodas as suas realizações, só no caso de uma/umha/ũa se pretende uma diferenciação gráfica. Lógico? Absurdo?

As regras

O fonema nasal velar aparece também em contextos como «uabrigo», ou «levaraas cousas». Nem sequer os esquisitos codificadores ilgarráguigos propuseram ainda grafar «unh abrigo» ou «levaranh as cousas», como tampouco a CL-AGAL os equivalentes «umh abrigo» ou «levaramh as cousas».

Uma representação gráfica independente faz sentido no galego ILG-RAG, porque no seu padrão de língua também se propugna uma realização nasal velar de termos como «inherente» ou «inhalar», que na norma reintegracionista se realizam e grafam alveolarmente («inerente», «inalar»). As pessoas utentes do galego reintegracionista não precisamos de um agá para saber que, na Galiza, «uma» não se lê u+m+a, senão que se lê igual que «um a» (como no caso de «um amigo»). É mais, toda palavra em galego reintegracionista rematada em -m tem essa pronúncia quando depois vai uma vogal (e nalguns casos mais, mas já é outro conto), mas não se propugna uma grafia diferente da que internacionalmente tem a nossa língua.

Exceções às regras

Mas, ó desgraça! Até a regra que acebei de citar tem exceções, mas nem sequer nesses casos se propõem grafias diferentes! As exceções à regra do -m são «nom» (não), «quem», «tam(b)ém», «alguém» ou «ninguém», que admitem tanto as realizações velares quanto alveolares:

  • Nom (não): «não o sei» = «nom o sei» e «no-no sei».
  • Quem: «quem a viu?» = «quem a viu» e «que-na viu?»
  • Etc.

No galego isolacionista também há polo menos uma exceção notória, «benestar» (bem-estar), cuja pronúncia correta é a mesma que defendemos os reintegracionistas: «bem estar», não «be-nes-tar». Apesar de que poderiam grafar «benhestar», vê-se que não consideraram o assunto um problema.

Solução?

regra 1 diz que todas as palavras do galego rematadas em -m têm pronúncia velar. A palavra «um» acaba em -m, portanto está dentro da regra. A regra 2 também diz que quando depois desse -m vai uma vogal, devemos manter a pronúncia velar («um amigo»). Então, se um+a nos dá «uma», ensinar a pronunciar corretamente esta palavra nos contextos galegos, não devera ser maior dificuldade que para um isolacionista ensinar que «benestar» se pronuncia igual que «bem + estar».

regra 3, que é o senso comum, já nos dá a resposta ao problema… Ou?


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