“Objectivos militares permanentes”

objetivosmilitarespermanentesVá por diante que, polo geral, não acredito na autenticidade deste tipo de comunicados, pois enviar um correio a um meio é uma cousa, e que os factos nele afirmados sejam reais, é uma outra cousa. Portanto, limitarei-me apenas a comentar as minhas impressões acerca do comunicado, quer esteja enviado realmente por quem sabotou esse local, quer não.

O PSOE desde a gestom do governo espanhol, dirige e executa o processo de destruiçom do País […]

A afirmação é verdade a médias:

  • Facto: o PSOE governa no Estado espanhol.
  • Facto: o PSOE governou na Galiza, e atualmente está na oposição.
  • Facto: o PSOE não governa na Galiza.
  • Facto: o PSOE, em Madrid, não tem maioria absoluta.
  • Facto: o PSOE, para aprovar as suas medidas, está subordinado às votações de outros partidos.
  • Facto: o PSOE, em Madrid, tem-se apoiado em partidos nacionalistas, algum dos quais declarado independentista.
  • Facto: o apoio de partidos nacionalistas/independentistas, tem permitido o PSOE continuar a governar.

Após esta sucessão de factos, posso enumerar uma outra ‘verdade’ com a mesma percentagem que a que figura no comunicado: “Os partidos nacionalistas/independentistas com representação nas Cortes espanholas, são cúmplices com o PSOE do processo de destruição do nosso país”. Esta afirmação é, aproximadamente em 90%, estensível também a este outro fragmento:

[…] é responsável pola ofensiva espanholista que procura a nossa assimilaçom polo imperialismo espanhol, pola aniquilaçom do nosso território e os nossos sectores produtivos, pola venda dos nossos recursos a interesses alheios ao nosso povo. Também é responsável directo da fascistizaom, do recurte de direitos sociais, da repressom, das reformas neoliberais agressivas com as classes populares.

Bem é certo que os partidos antes mencionados foram contrários a estes últimos episódios, alguns dos quais mesmo apoiando uma greve geral contra o governo espanhol. Porém, aí estão, continuando a emprestarem os seus votos, quando necessário, para impedir a hecatombe do PSOE, pois acham que um governo do PP seria bem pior. Mas embora acreditem nisso, não continuam a ser cúmplices? Leiam a aceção segunda do termo “cúmplice”, e digam-me.

Os partidos políticos do regime, PP e PSOE, representam os interesses do imperialismo espanhol e da sua burguesia na nossa Terra, som inimigos directos da nossa Pátria, e polo tanto objectivos militares permanentes.

O negrito é meu, e utilizo-o para destacar a afirmação mais grave do comunicado, por ser uma ameaça explícita. Nos últimos dias tenho escuitado e lido, em diferentes ambientes, afirmações bastante condescendentes com as agressões contra as sedes do PSOE, e até culpando-os do mesmo que são culpados nesta comunicação anónima.

O mais preocupante, para mim, foram declarações de gente da órbita do BNG, filiados nalgum caso. Talvez não sejam conscientes de que o BNG governou três anos e meio mão com mão com o PSOE na Junta, e que ainda hoje governam em coalizão em vários municípios do País. Talvez não sejam conscientes de que o BNG é um dos partidos que, em inúmeras ocasiões, emprestou os votos ao PSOE. Talvez não sejam conscientes de que hoje é o PSOE o ameaçado, mas nada impede que o próprio BNG também o seja. Talvez tenham esquecido berros de “PSOE, Bloco, PP, a mesma merda é”, todo um aviso de que há setores sociais que situam o BNG à mesma altura que os partidos que “representam os interesses do imperalismo espanhol […], inimigos diretos da nossa Pátria […]”.

Ante um marco jurídico-políticos que impossibilita a soberania para o nosso País, que perpetua um modelo sócio-económico injusto e depredador, que aplica a repressom contra as legítimas reivindicaçons de liberdade e justiça e nos leva a esmorecer baixo a opressom espanhola, entendemos a luita armada como um elemento prioritário e determinante processo de libertaçom nacional.

Essa apelação à luita armada, além de imoral, é altamente preocupante. Na Galiza, felizmente, tivemos pouca experiência nisto, e creio que ninguém deseja que volte acontecer. Trata-se de importar recursos utilizados noutros países com histórias e circunstâncias notavelmente diferentes ao nosso, e que poderiam ter dramáticas consequências. Especialmente quando a espiral de fanatismo acaba por converter em “inimigos diretos da nossa Pátria” a todas as pessoas, setores, coletivos, com perceções, estratégias ou métodos diferentes, embora nalguns casos os objetivos possam ser comuns. Hoje é o PSOE, amanhã pode ser o Bloco, depois de amanhã pode ser a própria pessoa que escreveu o comunicado por se enfrentar a alguém ainda mais fanatizado.

Todos os métodos de luita som pertinentes e necessários, e se o nosso povo quer avançar decididamente pola libertaçom deve caminhar cara o combate com todas as consequências.

Mantenho que nenhuma ideia merece ser defendida com sangue, e que a única violência justificada é a de defesa. Mas defesa é defesa, e não, como dizia Zagallo, que “a melhor defesa é um bom ataque”. A defesa preventiva, neste caso, não é mais que um ataque imoralmente justificado.

O combate independentista defende a Terra, enfrenta directamente o inimigo, devolve algum golpe e demonstra que a liberdade ainda é possível.

O combate independentista pode e deve-se dar desde todos os frentes possíveis, mas nunca desde a violência, embora o Estado a utilize. As palavras podem mais que as armas. É mais doado ganhar um combate pacificamente tendo o povo por trás apoiando, do que com capacidade militar e um povo amedrontado.


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