… no Estado espanhol. Vou procurar responder as principais questões sobre o tema. Se achares em falta alguma, indica-mo nos comentários 😉
- Os controladores aéreos estiveram em greve. NÃO. O direito à greve está perfeitamente recolhido e regulado na legislação espanhola, e a ação-protesto deste coletivo nada teve a ver com o exercício de um direito fundamental. Foi, diretamente, um caso de absentismo laboral, como se um dia ligo para o choio e digo que não posso ir porque me doi o estômago.
- Os controladores aéreos são um coletivo privilegiado. DEPENDE. Fontes do mais diverso parecem confirmar que os supostos salários milionários publicados polo Governo espanhol não se correspondem com a média. Isto convertou o coletivo em bode expiatório do Executivo espanhol para outro tipo de medidas, achantando o caminho, por exemplo, a uma das últimas que se anunciaram: a privatização dos aeroportos.
- Mesmo assim, cobram demasiado, ou? DEPENDE. Salvo que se demonstrar o contrário, cobram o que marca a sua conveniação coletiva… e, polos vistos, mesmo por baixo disto. As conveniações coletivas são de obrigado cumprimento, ou caso contrário pode-se recorrer à justiça. Infelizmente, a reforma laboral imposta polo próprio PSOE permite, se a empresa o estimar oportuno, desvincular-se do marcado no convénio —e a Administração estatal é também uma empresa—. Neste senso, o coletivo cobrou, em princípio, o que a empresa pública AENA —que, para o caso, somos todas e todos nós, mas com assinatura do Gobierno de España— pactuou com a representação legal das e dos controladores. Que é uma cifra elevada? Comparando com o salário médio no Estado espanhol, sim, muito elevada. Porém, pessoalmente acho mais criticáveis, e com mais motivos, os salários de altos diretivos, ou os de muitos mandatários públicos, a quem ninguém pede contas e seguramente têm uma produtividade muito menor.
- Logo os controladores são os bons do filme? Devo-me solidarizar com eles? DEPENDE. Antes de mais, cumpre lembrar o que o sindicato maioritário, a USCA, não apoiou a greve geral do passado 29 de setembro. Noutras palavras, declinaram solidarizar-se com comerciantes, transportistas, mestres, operários, alvanéis… É certo que se trata de um coletivo que está a ser usado de bode expiatório, sim, mas também o é que ganhou a pulso antipatia entre a sociedade por gerir mal o seu conflito. Há duas formas de gerir um: bem ou mal. Eles escolheram a segunda.
- Logo são os maus? NÃO. É incontestável que o seu proceder foi incorreto, mas o responsável primeiro e último é o Gobierno de España. Primeiro, por não respeitar a conveniação coletiva. Segundo, por usar os controladores de bode expiatório. Terceiro, pola decisão insólita de declarar estado de alarme. Não deixa de ser casual que o coletivo salte às primeiras páginas, seja polos salários, ameaça de greve, etc., quando o Executivo espanhol prevê fazer uma animalada antisocial —como a eliminação dos subsídios às pessoas que esgotaram todas as prestações por desemprego—.
- Devem ir ao cárcere. NÃO. O problema é a própria conceção do transporte aéreo como se fosse uma cousa radicalmente diferente do transporte ferroviário ou por estrada. Imaginais a Fiscalia pedindo penas de prisão para condutores de autocarros que um dia, ‘casualmente’, tenham ‘dor de cabeça’? Ou para os intercambiadores de metro? Totalmente surrealista, como a fantochada de decretar o estado de alarme, facto inédito desde a morte do ditador.
- A cidadania foi a grande prejudicada. SIM. Tanto pola ação insolidária dos controladores aéreos, como polas ações grotestas do Estado espanhol. Milhares de pessoas ficaram sem poder viajar, e tudo numa situação que era facilmente previsível.