A Patronal pré-histórica

Gerardo Díaz Ferrán
Gerardo Díaz Ferrán

Em tempos de crise, sempre há duas soluções: que paguem a crise os não ricos, ou que a paguem os ricos. A Patronal, a «parte contratante da primeira parte», sempre propõe que a paguem os segmentos de população mais febles. «Total, para o que comem», devem pensar, como no desenho de Castelão.

Resulta que o presidente da Patronal espanhola (a CEOE), Gerardo Díaz Ferrán, há uns dias já solicitou como medida anticrise flexibilizar o despedimento. Agora, na mesma linha, propõe simplificar os trâmites dos ERE. Na sua proposta, cumpre que os ERE se realizem mais rápido e sem necessitarem autorização administrativa.

Ignoro se o presidente da Patronal é conhecedor da gravidade da sua proposta, mas tristemente cuido que assim é, o qual é ainda mais preocupante. Essa medida implicaria a desaparição das principais garantias de um ERE, que são de um lado um tempo de negociação justo e necessário, e do outro a intervenção da Administração como garante de um processo socialmente justo e o menos traumático possível.

E é que o segundo é cruzialmente importante, pois em muitos casos são as contas públicas (ou seja, os cidadãos, mais uma vez) as que devem pagar parcialmente o custo económico de um despedimento colectivo.

Pensemos por um momento que se já é traumático para a sociedade e a economia um ERE com todas as garantias legais… o que pode sair se é algo movido apenas pola voracidade de uns empresários que só acreditam no liberalismo económico e no próprio proveito. Tristes nós à mercê de uma Patronal para quem a solidariedade não é que os seus lucros dos últimos anos paguem a crise, mas que o façam as classes trabalhadoras com o seu esforço e os seus impostos.


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