No Partido Popular da Galiza enche-se-lhes a boca de falarem de bilinguismo, de que não há conflitos por razão de língua e muitas outras cousas invejáveis numa sociedade democrática. Também falam de que os pais devem ter o direito de escolarizarem os filhos na sua língua materna (iniciativa louvável), assim como garantir que as meninas e meninos finalizem o ensino obrigatório com igual competência em galego e castelhano.
Porém, não passa tudo de hipocrisia e palavras valeiras, porque os primeiros a falarem são os menos indicados. O nível de incompetência linguística em galego do seu presidente é estensível a, praticamente qualquer outro membro da sua equipa e, inclusive, ao seu portal institucional, que ao menos deveria ser uma qualidade linguística aceitável. Pois tampouco.
Parece mentira que o PP, partido que colaborou para impor uma norma espanholista para o galego (na época de AP), seja o primeiro a vulnerar as regras mais elementares dessa norma (e, as mais das vezes, de quaisquer uma das normas internacionais do nosso idioma). A seguir coloco algumas pérolas resgatadas de uma notícia de apenas 503 palavras.
- tódalas/os: a norma actual considera que a forma prevalecente deve ser “todas as/os” [3 ocorrências]
- falla: usado erroneamente no canto de “falta”.
- […] antes de iniciarse as conversacións co PPdeG, o PSOE pechou coa dirección […]: decalque da mesma construção castelhana, pois esta frase em galego requer infitivo pessoal, ou seja, “antes de se iniciaren (iniciarem) […]”
- diseño: castelhanismo flagrante por “deseño” (desenho) [2 ocorrências]
- rechazou: a norma actual prefere “rexeitou” (rejeitou)
- O PSOE se nega a recoñecer […]: uso dos pronomes à espanhola; neste contexto deveria ser “[…] négase […] (nega-se)”
- Esta proporcionalidade se basea […]: idem.
- plantexou: o verbo “plantexar” não existe em galego, é uma palavra castelhana que deve traduzir-se por “formular”, “propor”…
- fora: utilizado como advérbio de lugar, na norma isolacionista deve acentuar-se (“fóra” [fora])
- coste: castelhanismo flagrante por “custo”
- […] nos estudos de San Marcos se desenvolverán todos os debates […]: a nível formal, resulta incoerente que nesta frase se use “todos os” quando no resto da notícia põem “tódolos”; por outra parte, continua o uso à castelhana dos pronomes (“se desenvolverán” por “desenvolveranse“) e o verbo “desenvolver” usa-se com o significado castelhano por “decorrer” [por resultar cansativo, não se indicam o resto de casos errados de colocação do pronome “se”]
- […] se celebraria as cinco da tarde […]: falta o acento diacrítico para marcar a contracção da preposição “a” e do artigo feminino plural “as” (“ás” [às])
- poidesen: segundo a normativa actual, esta forma verbal é “puidesen” (pudessem)
- […] si se celebrase […]: uso da partícula castelhana “si” no canto da galega “se”
- infraestructuras: segundo a norma actual do galego isolacionista, “infraestruturas” (infra-estruturas)
Semelhante número de gralhas e de espanholismos num texto de extensão tão reduzida (503 palavras, pouco mais de 3.000 caracteres) no portal do que presume ser o partido político mais votado da Galiza e garante da equidade no ensino e das liberdades linguísticas, resulta pouco menos do que risível.
Por se alguém pensa que escolhi à mão-tenta o texto pior escrito, equivoca-se: simplesmente utilizei a lei do mínimo esforço e optei por analisar a notícia que figura no primeiro lugar no web do PP, ou seja, a que primeiro se via nada mais abrir o seu sítio web. Qualquer pessoa pode comprovar no resto de secções do portal que a qualidade linguística é igual ou pior: leer, descárgate, victoria…