Eñe que Eñe

con eñe de españaApós o debate que suscitou em Chuza! o artigo do Vítor Manuel Lourenço Peres, vejo-me na obriga moral de esclarecer uma questão: não sou contrário ao Ñ, como também não sou contrário a que as pessoas galego-falantes, no seu livre alvedrio no que diz respeito do idioma, utilizem este caracter para representar o fonema nasal palatal (dito assim parece algo mais sério do que em verdade é). O que digo, o que pretendia dizer encetando o debate, é que todas as escolhas têm as suas consequências. E que se o pessoal quer escrever galego utilizando Ñ, deveria, ao menos, ser consciente de que se trata de uma letra castelhana.

Já o dizia Carvalho Calero: ao galego só lhe resta ou regressar ao galego-português ou converter-se em galego-castelhano. O deterioro da qualidade linguística que todas e todos podemos comprovar no dia-a-dia, juntamente com a entrada em massa de expresões e giros próprios castelhanos/espanhóis, tudo vai nesse caminho. E o Ñ, simbolicamente, é a prova mais palpável da subordinação do sistema galego ao castelhano-espanhol.

Provas da espanholidade do Ñ não faltam, e tampouco é preciso eforçar-se muito para atopá-las.

  1. Para começar, o Ñ provém de uma grafia antiga NN, onde o segundo caracter cada vez mais começou a ser escrito riba do anterior, com o qual afinal deu no actual Ñ. A forma ondulada do til (~) explica-se por isso, como também isso explica que em galego-português e noutras línguas (como o romanês) este signo seja utilizado para marcar a nasalidade das vogais.
  2. Se realizarmos um estudo quantitativo, poderemos comprovar como o fonema nasal palatal representado com Ñ provém em castelhano mormente do grupo latino NN, e em menor medida de NI.
  3. Em galego-português, esse mesmo fonema provém, em primeiro lugar, do grupo NI e depois do NG. Proveniente do NN apenas há 2 ou 3 palavras, entre elas ‘cânhamo’, que procede do castelhano (de ‘caña’, concretamente).
  4. Devido a esta origem, o galego antigo costumava representar o fonema nasal palatal com as grafias NI, NJ e mais tarde com o NH importado da Occitânia. Porém, o NN e Ñ começaram a utilizar-se com a chegada de escrivãos de Castela.
  5. Os únicos idiomas neolatinos que usam o Ñ são o castelhano, o asturiano, o aragonês e… o galego-ILG/RAG. Entre os não latinos podemos atopar as línguas indígenas americanas (apenas as de territórios que formaram parte do Império espanhol, não as do português… ‘curiosamente’) e o basco (‘curiosamente’ um país cuja maior parte da população pertence ao Estado espanhol). Como excepção, o bretão, onde o til se utiliza sistematicamente na ortografia moderna para marcar todas as nasalidades, incluindo, é claro, a da própria nasal palatal. Na ortografia antiga o que se fazia era acompanhar a vogal nasalizada de um -n-, mas afinal decidiu-se simplicar o sistema.

Uma explicação similar serviria-nos para exemplificar o uso abusivo e irracional que o galego isolacionista fai da letra X, tão excessivo qe não pode ser qualificado de outra cousa diferente do que espanholismo encoberto.


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