Os nossos apelidos, galegos, com todo o direito [I]

apelidinhosO idioma é um dos mais fortes sinais de identidade de qualquer povo, já que através dele se canaliza a Cultura, em maiúsculas, todo o que conforma o grupo étnico: lendas, tradições, leis, formas de relacionamento, jeitos de ver o mundo… A língua vertebra estes elementos e constitui-se, ademais, no seu veículo transmissor.

O idioma abrange todos os níveis da vida, e o idioma está presente em todo, dos nossos nomes aos nossos apelidos. E precisamente disto último vai este post. Como podeis comprovar, nos últimos dias estou dando maior atenção da habitual às questões linguísticas, e não é para menos, já que estamos na Temporada das Letras (período entre o Dia das Letras e o Dia de Camões), e cada quem tenta contribuir da melhor forma possível.

Dedico este post aos apelidos porque é algo do que poucas vezes se fala. A paulatina normalização do galeguismo e do seu ideário fez com que já a ninguém soe estranho escuitar os topónimos do país na sua forma correcta (uma outra questão é a grafia, mas disso também trataremos), e também cada vez soa menos estranho os galegos terem nomes galegos (se bem também reste muitíssimo a fazer, grafia à parte).

No entanto, há uma estranha (mais bem suspeitosa) conivência cara ao facto de milhares de galegos terem apelidos castelhanizados, circunstância se calhar mais preocupante no caso de destacados líderes galeguistas, aos quais se lhes supõe maior conscienciação e implicação. Não se livra ninguém em nenhum âmbito… Quer na política, quer na universidade, quer no ensino, quer nas artes… Dúzias, centos, milhares de apelidos galegos burdamente castelhanizados ou directamente sequestrados e substituídos pola sua cópia castelhana. Del Riego, Puente, Iglesias, Muñiz, Núñez, Otero, Quintana, Villar ou Montero são apenas uns poucos exemplos.

Esquecer a dominação

Restituir os apelidos pola sua forma legítima (a galega) é também contribuir a borrar da nossa história mais um símbolo da dominação e da falta de poderes próprios. Porque foi precisamente o facto de a Administração estar em mãos espanholas o que fez com que desde o século XVIII se fossem traduzindo/deturpando a feito boa parte dos nossos apelidos, o qual também implica espanholizar uma parte de nós. E, pior do que espanholizar, deixá-la sem sentido… Porque, que sentido têm apelidos como Otero, Meana, Vilareyo ou Seijo? Assim, em galego não significam nada, e em espanhol tampouco. Ficam apátridas, não queridos em nenhures.

Muitos galegos, movidos mais pola preguiça do que por outra cousa, consentem. Não os culpo, a própria legislação e o aparato administrativo impõem muitas dificuldades para restaurar a forma legítima dos apelidos galegos, sobretudo se a deturpação coincidir com apelidos directamente castelhanos. É o caso de Rivera, Cabanillas, Cuevillo ou Sotillo, que nalgum momento da história recente substituiram legítimos Ribeira, Cabanelas, Covelo ou Soutelo. Não estou negando que no caso de algumas pessoas os seus apelidos procedem, com efeito, do estrangeiro… Tal era o caso, por exemplo, do intelectual galeguista Ramom Cabanillas, cuja família paterna era castelhana (ou isso tenho entendido).


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