O arcebispo espião e a Igreja mentireira

Há poucos dias, o cardeal polonês Stanislaw Wielgus fora arcebispo de Varsóvia apesar de existirem fundadas suspeitas de ter sido algo mais do que confidente do KGB na Polónia durante a época de Jaruzelski. Pouco depois do seu nomeamento, uma comissão criada aos efeitos de corroborar ou desmentir tais suspeitas acabou por confirmá-las. E agora, após a pressão mediática ao seu redor, o arcebispo/cardeal decidiu apresentar a sua renúncia, acolhida polo Vaticano como a melhor solução.

No entanto, o que superficialmente poderia parecer um exercício de higiene democrática, coerência e prova de que o sistema funciona, não é tal, mas mais um movimento opaco que evidenciou as diferentes eivas da Igreja católica e deixa muitos interrogantes. Eis algumas questões:

  • O arcebispo Wielgus renunciou ao seu cárrego somente após uma comissão certificar que foi espião do KGB. Teria renunciado se a comissão não desvendasse o seu passado?
  • Antes de ser nomeado, Wielgus assegurara que nunca colaborara com a ditadura. Apenas reconheceu ter sido recrutado na sua adolescência e mais nada. No entanto, ao se demonstrar o contrário (factos que acabou reconhecendo), fica provado que Wielgus mentiu em reiteradas ocasiões. A mentira é, segundo a própria Igreja católica, um dos piores pecados. Será a renúncia o único castigo à sua conduta?
  • Relacionado com o anterior, é a mentira, realmente, castigo/pecado menor segundo para quê pessoas? Recentemente, um sacerdote galego na Argentina renunciou aos hábitos e decidiu casar, e desde a sua diocese enviaram-se cartas ameaçando os seus amigos para não acudirem sob cometerem ‘pecado mortal’. É pior isto, agir por amor, ou traiçoar conhecidos e desconhecidos vendendo-os aos serviços de inteligência?
  • Por último, de quê serviu o labor do Vaticano que “teve em conta todas as circunstâncias vitais” do Wielgus antes de nomeá-lo? Qual foi a profundidade das suas indagações? O que descobriu a comissão que não pudesse ter sido devendado antes? Será a rigorosidade Vaticana a mesma que segue à hora de canonizar pessoas por fantásticas (em todos os sentidos da palavra) milagres?

Ficam aí, pois, estas questãozinhas de nada que vos convido a ir respondendo.


Publicado

em

por

Etiquetas:

Comentários

3 comentários a “O arcebispo espião e a Igreja mentireira”

  1. Avatar de marykinha
    marykinha

    O meu bisavó sempre decía que a historia tiñaan que escribir os curas e sacerdotes.
    Contestando as túas questións:
    – somos egoístas por natureza, polo que se non se crease esa comisión ou non se dixese nada, non renunciaría ao seu novo cargo.
    – a cura da mentira está no confesionario, polo que quen sabe se confesou para evitar ir a maiores???
    – polo xeral e pola experiencia que teño, as mentiras é raro que sexan graves, xeralmente adoitan relacionarse con atitudes infantís.
    – unha vez que soltas os hábitos non é pecado mortal (o pai dunha amiga foi cura e deixou os hábitos para casarse coa mai da miña amiga)
    – a culpa foi do que actuou como “man do demo” á hora de mirar o expediente do Wilegus, son tratos de favores.
    – antes eran suposicións e mentras non chegas a un cargo relativamente importate, ninguén se fixa en ti (case como os que van a Gran Hermano, son todas putas e sábese cando vai ao programa, pero non antes!)
    – o realmente fantástico é que canonizasen ao fundado do Opus Dei… para unha mente como a miña, os milagres non existen, soamente existen boas imaxinacións e no seu defectos, supoño que outras sustancicas!
    Bicos

  2. Avatar de Galeguzo
    Galeguzo

    A verdade é que che dou a razão na maior parte do que dizes… sobretudo no último parágrafo 😀

    No que respeita à dupla moral da Igreja, bem dizes que casar deixando os hábitos não é pecado. Curiosamente parece “pecado mortal” o que fez (por amor) esse sacerdote, mas não crimes de pederastia ou de colaboracionismo com regimes ditatoriais (Portugal, Argentina, Romania…).

  3. Avatar de marykinha
    marykinha

    Jejejejeje, fai un ano, nunha asignatura, ademáis de falar do amigo Jung falabamos dos curas pederastas en Francia e das tremendas “represalias” que sufriron (eu tamñen quero esos castigos!)
    A día de hoxe, a Igrexa debera ser consciente de que a raíz deste problema está no Seminario e no Celibato, así que haberá que revisar toda a doutrina cristiana para evitar males maiores!
    Sabías que os nenos que sufriron abusos sexuais de maiores tenden a convertirse en agresores sexuais de cativos??
    Sempre é a pescadilla que se morde a cola!
    Bicos