Repete 100 vezes: antes de galeguizar, exemplo devo dar

Eu nunca serei Yo - faixaPor fim me decido a falar da proposta do BNG para a galeguização dos apelidos dos parlamentares galegos. A proposta tem a sua parte positiva e (para mim) defendível, mas também uma parte muito criticável. Já que logo, exporei o meu argumentário começando pola defesa e, a seguir, a crítica e as conclusões.

A FAVOR

Muitas pessoas, sobretudo desde o espanholismo, criticaram com argumentos absurdos e demagógicos a proposta nacionalista. Em boa parte, esse postulado estivo movido por três factores: espanholismo (já comentado), ignorância (compreensível) e desconhecimento da proposta. O último é constatável porque uma proposta que o BNG apenas limita aos representantes públicos, boa parte da brunete mediática estende-o ao resto da cidadania, quando desde o Bloco não se propôs isso.

O argumentário do BNG para defender a sua proposta é sólido e contundente: durante séculos, a Igreja católica nas partidas de baptismo e as diferentes faces da Administração (de justiça, fiscal, notários, etc.) promoveram ou impuseram a castelhanização (burda e ilógica em muitos casos) e boa parte do legado antroponímico galego. Não vou entrar em muitos exemplos, e limitarei-me a alguns casos:

  •  Tradução literal: Quintã > Quintana, Lobeira > Lobera, Ribeira > Rivera, Pena > Peña, Outeiro > Otero, Branco > Blanco….
  • Adequação às regras do castelhano: Pereira > Perera (Peral), Preto > Prieto, Rego > Riego, Eanes > Yanes/Llanes/Yáñez/Yánez, Ilháns/Ilhães > Illanes, Arins > Arines, Paços > Pazos…
  • Mudanças na acentuação: Nóvoa > Novoa, Quintás > Quintas, Avila (A+Vila) > Ávila…
  • Castelhanização fonética e/ou gráfica: Lage/Laje, Feijoo/Feijó, Janeiro, Ameixeiras > Ameijeiras, Meixide > Meijide, Ageitos/Ajeitos…

galeguizar_02Como bem disse o parlamentar nacionalista Bieito Lobeira, a permanência dos apelidos castelhanizados e que não significam nada “apenas se pode explicar pola negação de uma nação e do seu idioma”. Por esta razão, e já que a lei avaliza a restituição das formas galegas (com matizes, como a seguir comento), qualquer partido político da Galiza deveria defendê-la, mesmo que os seus representantes não a vão levar à prática. Nunca, como se tem feito, criticá-la de raiz: isso evidencia até que ponto chega, precisamente, a negação do idioma, do país e da própria história. O auto-ódio, em essência.

NA CONTRA

No entanto, a legislação apenas permite a restituição dos apelidos à forma galega que reconhece o oficialismo, quer dizer, a isolacionista. Por este motivo, não se reconhece o castelhanismo em formas como Pazos, que deveria ser Paços, o mesmo que ocorre com Cociña (Cozinha), Magallais (Magalhães) ou Carballo (Carvalho). Ainda, na proposta do BNG (ao menos se é idêntico este ponto a uma queixa que apresentara no seu dia Francisco Rodríguez), deduz-se a criminalização de formas bastante ou perfeitamente bem escritas como Janeiro, Feijoo/Feijó ou Lage/Laje, cujo único defeito e serem apelidos geralmente mal pronunciados (pronunciados à espanhola, é claro).

Boa parte destes problemas dos apelidos desapareceriam da Galiza se conhecermos a escrita correcta do nosso idioma, se apreendermos de vez que não se escreve como se fala, que não podemos pretender uma adequação biunívoca entre a língua falada e a escrita. Devemos apreender, por fim, que todas as línguas têm as suas variantes, e que os factos anedóticos não servem para fazer regras, porque as regras devem ter carácter geral e servir a quantos mais melhor.

galeguiza-teSe na Galiza ao dizermos janeiro mormente pronunciamos xaneiro, mas 200 milhões de falantes do nosso idioma ainda o pronunciam seguindo as norma geral da nossa língua, quem somos nós para impormos uma regra que rompa o sistema? Com que legitimidade nos alçamos contra os que falam o idioma de nosso e criamos fronteiras e alfândegas tomando como referência, ademais, materiais alheios (a língua castelhana, da que o oficialismo tomou a ortografia)?

Se na Galiza se volver ao rego comum, à ortografia comum e, por fim, ao sentido comum, metade deste problema desaparecia de golpe (apelidos bem escritos e mal pronunciados). Feito isso, polo seu próprio peso cairíamos no resto de casos de burdas castelhanizações e veríamos mais claramente a necessidade de restituirmo-los todos. Teríamos, ademais, o aval da legitimidade.

E falando de legitimidade… legitimidade, precisamente, não a tem o BNG ao formular esta proposta (daí que do PSOE, radicalmente, sejam contrários). Antes de pretender remexer na casa das suas senhorias, o Bloco deveria mirar para o seu próprio poleiro, onde abundam os Otero, Quintana e demais. Quando o partido de Anxo Quintá dê o primeiro passo necessário, terá o aval de legitimidade para poder solicitar-lhes aos demais fazerem nada. Por enquanto, a proposta, ficava-lhe mais aqueladinha guardada para o consumo interno. Porém, neste Paisinho nosso onde nada se move, de quando em quando é necessário o debate… mas ao menos defendei bem a proposta e não façais o ridículo!

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+ Mais informação

  • Consulta a secção «Caixa dos Apelidos» na web da Mesa.
  • Lê e escuita em AlterGaliza sobre a campanha de galeguização de apelidos da Gentalha do Pichel

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