Análise das Gerais 2019 (bis): o BNG, único partido da esquerda que melhora em votos

As Eleições Gerais (bis) de domingo, 10 de novembro de 2019, trazem como principal novidade do mapa político galego que o BNG é o único partido da esquerda que aumenta em votos respeito das Eleições Gerais de 28 de abril deste ano. Nestes comícios só melhorárom resultados a extrema-direita (+27.787) e a direita (+18.741). O Bloco Nacionalista Galego ficou com +25.164, o que situa os nacionalistas como segunda força que mais aumentou o apoio desde as anteriores eleições gerais, graças ao qual pudo superar a extrema-direita por exígua diferença e lograr assento pola província da Crunha: Néstor Rego será o representante do nacionalismo galego nas Cortes espanholas.

Com os dados na mão, o BNG é o único partido da esquerda que melhora resultados.

A melhora eleitoral do BNG

A melhora eleitoral do BNG coincide, quase matematicamente, com a soma dos votos de Compromiso por Galicia (CxG), que desta vez não se apresentou porque chegou a um acordo com o Bloco, e do partido político En Marea, cujas bases apoiárom de maneira geral a candidatura do BNG, ainda que não chegou a existir um acordo (desacordo, mais bem) entre cúpulas. De facto, a soma BNG+CxG+EM em abril dá 115.092, equanto a as listagens mistas BNG+CxG lográrom 119.597 votos, portanto ficam ainda ‘sobrando’ 4691 votos cuja origem não fica totalmente clara, mas que podem ser novas pessoas votantes ou desencantadas com outros projetos políticos.

Com os dados na mão, o BNG é o único partido da esquerda que melhora resultados. E, comparando com as eleições municipais do mês de maio (de que falo mais abaixo), tem ainda muito potencial de crescimento (ou de recuperação de voto, segundo se vir).

Fracassam os partidos que provocárom a repetição eleitoral devido ao seu desencontro: o PSOE perdeu -67.982 votos na Galiza e En Común-Unidas Podemos perdeu -51.801.

Ciudadanos desaparece do mapa

O grande fracasso está, como no Estado, entre os Ciudadanos, que definitivamente desaparecem do mapa político galego. Perdêrom -120.474 votos, uma descida que não encontra correlato no aumento das outras duas direitas, que somam +46.528. Há mais 73.946 votantes dos Ciudadanos cujo voto não se sabe onde foi parar, ainda que os resultados matemáticos parecem querer dizer que, na sua maioria, ficárom na casa.

Pau para o PSOE e Podemos

Fracasso, também, entre os partidos que provocárom a repetição eleitoral devido ao seu desencontro: o PSOE perdeu -67.982 votos na Galiza e En Común-Unidas Podemos perdeu -51.801. Só o sistema d’Hont e um bocado de sorte permitírom que mantenham o mesmo número de assentos que nas últimas eleições (dez e dous, respetivamente).

Dos votos que perdêrom Podemos e os seus aliados, boa parte fôrom para Más País, o partido de Íñigo Errejón e dos galegos Carolina Bescansa e Raimundo Viejo Viñas, todos os três antigos dirigentes do partido roxo. O partido turquesa logrou 22.474 votos, portanto ainda fica sem explicação direta aonde fôrom parar os restantes 29.327 sufrágios que perdeu. É possível que entre eles e encontrem os 4691 extra que desta vez logrou a candidatura alargada do BNG? É. É possível que ficassem na casa? Também.

Algumas conclusões

  • O terreno demonstrou ser propício para um acordo eleitoral entre o BNG e CxG, aos quais, ao menos à luz dos dados, deveria somar o que restar do partido político En Marea (Ames Novo, Lugonovo e outros partidos locais).
  • O BNG logrou nas eleições municipais de maio 194.462 votos, isto é, 74.865 votos mais dos que conseguiu nas gerais. Isto foi assim porque, em muitos concelhos, as nacionalistas fôrom as únicas alternativas ao bipartidismo PP-PSOE. A generosidade das votantes traduziu-se num apoio maior ao que agora logra o Bloco, cujas candidaturas tivérom de concorrer contra En Común-Unidas Podemos e o PSOE, delimitam pola esquerda ou pola questão nacional o público potencial do Benegá. Quase 75.000 pessoas poderiam somar ao projeto nacionalista se este continua a ser claro, firme e, sobretudo, generoso.
  • A direita está, na Galiza, no seu momento de menor apoio em muito tempo. Respeito das eleições de abril, o Trifachito (PP+Cs+Vox) perdeu mais de 70.000 votos, o que nos devera calmar relativamente acerca da suba experimentada pola parte mais espanholista, machista, classista e racista desta direita. Com estes dados na mão, o bloco dos partidos de centro (PSOE) e de esquerda (BNG+U. Podemos+Más País) superam em 140.098 sufrágios a direita.
  • Botar Feijóo da Junta está cada vez mais ao alcance da ponta dos dedos, mas nessa conjuntura não há muita margem para experimentos políticos nem egoísmos. O PP colocará ao serviço de resistir na Junta toda a artilharia, toda a maquinaria Administrativa e quanto poder económico e mediático de que dispõe desde já mesmo. Fará quanto puder para dividir a oposição e alimentar a sua fragmentação, ao tempo que procurará aglutinar as direitas ao redor do seu projeto. Haverá uma única e grande direita como inimigo a bater, frente a 4 ou cinco propostas de centro e esquerda que, nesse contexto, podem ganhar em votos, mas perder em assentos, validando uma nova maioria absoluta para o barão dos Peares.
  • É o momento da generosidade e do sentido de País. É o momento de deixarmos de medir-nos as pirolas. É o momento de jogar a ganhar e de fazê-lo com inteligência. É o momento de apostar, premiar e cuidar de quem o está a fazer bem. E já digo o bastante com isto.

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