Eleições AGAL 2015: o artigo que não publicará o PGL

Sábado, 24 de outubro de 2015, haverá eleições ao Conselho da Associaçom Galega da Língua (AGAL). No último mês pudemos ler dúzias de artigos e, literalmente, centos de opiniões a respeito de um (e só um) dos pontos do programa da única candidatura que se apresenta. A imensa maioria dos textos e comentários aparecêrom no Portal Galego da Língua (PGL) e, precisamente por isso, venho-vos aqui com o artigo que não publicará o PGL (*). Este artigo.

Nas eleições do sábado, Eduardo Sanches Maragoto aspira a se converter na sétima pessoa em presidir a AGAL. A primeira foi, brevemente, Xavier Alcalá (1981-1982), quando ainda não era eu sequer um projeto em mente de meu pai e minha mãe. A segunda foi Maria do Carmo Henríquez, cuja presidência se prolongaria quase duas décadas (1982-2001). Nesse período fum concibido, crescim e quase me tornei adulto (quase); tão duradoiro foi.

A AGAL mais eu

Nesse ano, 2001, um grupo jovem estruturado ao redor de Bernardo Penabade (que na altura andava na casa dos 37) e Carlos Quiroga (40), decidiu apresentar-se para renovar a associação, para modernizá-la e enveredar por novas linhas. Rodeárom-se de gente jovem, mas também soubérom somar a experiência de pessoas como Isaac Alonso Estraviz, na altura um moço de 66 aninhos. Sob a presidência do Bernardo (assim o chamamos quem tivemos o prazer de o tratar), a AGAL entrou no século XXI (literalmente) e deu os primeiros passos na Internet. Seis anos (2001-2007) em que a AGAL criou o seu primeiro sítio web, que aginha evolucionaria no Portal Galego da Língua (1.0), uma verdadeira revolução por dous fatores fundamentais:

  1. Converteu-se já do início no meio de comunicação de referência do reintegracionismo… e não só: também numa referência necessária sobre a atualidade da língua na Galiza.
  2. Através dos comentários às notícias e dos foros, mas também de um ativo grupo de discussão na rede, pessoas reintegracionistas que estavam dispersas começárom a ter uma referência ao redor da qual se nuclearem, conhecerem-se, colaborarem.

Foi nessa etapa que eu logo me aproximei da AGAL, mas só depois de me tornar reintegracionista. Com efeito, primeiro fum reintegracionista e, depois, acheguei-me à AGAL. Depois de dous anos longos de dúvidas internas (e alguma externa) a respeito da identidade da língua, após ler e analisar argumentos de todo tipo, após confrontar as minhas ideias preconcibidas com as novas que apareciam diante de mim… Quase sem pretendê-lo, acabei-me tornando reintegracionista. A insuficiente reforminha das NOMIG aprovada em 2003 pola RAG foi o que me acabou definitivamente convencendo de que a estratégia reintegracionista era a certa para a língua; não se podia perder já mais tempo.

Nesse 2003 comecei a colaborar (timidamente) com o Portal Galego da Língua e a procurar o contato de pessoas reintegracionistas, participando até em atividades no mundo real como o Fórum da Língua (28 de fevereiro de 2004), que representou para mim uma experiência marcante (e um ato de autoafirmação). Nesse encontro tratei pola vez primeira pessoas com as quais me reencontraria (quem mo ia dizer!) anos depois e acabarei formando valiosas amizades que ainda hoje conservo. Ainda na presidência do Bernardo, no ano 2006 tornei-me sócio de pleno direito e recebim o meu primeiro cartão de sócio de mãos do Isaac Alonso Estraviz, na altura secretário agálico.

O trabalho no Conselho da AGAL (como anos depois comprovaria pessoalmente) é esgotador, mais ainda quando estás a implementar um programa renovador, num momento também em que na Galiza se produziram mudanças políticas. Os derradeiros anos pré-crise económica fôrom já com a quarta pessoa a presidir a AGAL, o viguês Alexandre Banhos. Ele inaugurou, sem querer, uma curiosa tendência que ainda pervive (mas parece que já por pouco): a de ter à frente da associação alguém de mais de 1,9 m. O mais salientável do Biénio Banhos (2007-2009) seria a boa gestão económica, que resultaria fulcral para os anos vindouros, a começar pola mudança que chegaria no verão 2009. Foi também neste período que intensifiquei o meu trabalho militante para a AGAL.

Algo rompia dentro de mim

Por razões sobejamente conhecidas e que não vem a caso mencionar, houvo um adianto eleitoral, convocando-se em março desse ano novas eleições, que se materializariam em começos do mês de junho. Durante quase três meses houvo uma situação quase inédita: ninguém queria assumir a direção da AGAL, o qual conduzia inexoravelmetne a associação a um beco sem saída, a uma assembleia extraordinária para sua liquidação. Este comentário pode parecer apocalíptico em outubro de 2015, mas quem vivemos em primeira pessoa esse momento podemos dar fé de que era impressão maioritária e a isso obrigavam os estatutos, caso ninguém pegar na encomenda. Tenho na minha caixa do correio (eletrónico) centenares de mensagens eletrónicas desses três meses que assim o demonstram. O mês mais crítico foi abril, no qual pessoas relevantes no dia-a-dia da AGAL anunciavam (em privado) a sua intenção de abandonarem o projeto se não se produzia uma mudança radical.

A AGAL esfarelava-se, e algo rompia dentro de mim. A AGAL, que para mim foi sempre uma família complementar à minha, constituída também por amizades que formam parte do meu mais íntimo círculo de amizades, podia desaparecer.

Um encontro na Arouça

E no meio da tormenta pareceu escampar o dia que o Valentim Fagim convocou uma reunião de urgência na Gentalha do Pichel para saber em primeira pessoa como respirávamos as sócias e sócios de base, se praticávamos a eutanásia com a AGAL ou fazíamos um intento desesperado por reanimá-la. Dessa reunião, em começos de abril, saírom vimes para a esperança, que se concretariam numa maratoniana reunião na segunda quinzena desse mês na Ilha de Arouça, um encontro que deverá ficar algum dia explicado nos anais agálicos.

Do encontro de Arouça saíu-se com uma candidatura ao Conselho da AGAL, a Geraçom Spectrum, que recebeu o nome como homenagem a que o seu núcleo duro era dos anos setenta do século XX, ou seja, que andavam na casa dentre 30 e 40 anos. Homenagem, também, à própria associação, constituída só meses antes do lançamento do popular computador. Da Arouça saíu-se com uma candidatura (e quem escreve, no meio)… e também com um (mais uma vez) revolucionário programa, cujo ponto mais polémico acabou por ser um projeto de mudança dos estatutos para permitir remunenar os cargos diretivos da AGAL. Esta proposta aproveitava uma possibilidade da lei em vigor e concibia-se como a única maneira de poder implementar o inovador programa. O voluntarismo dá até onde dá, mas para os projetos progredirem é necessário contar com alguém que tenha o seu foco neles no dia-a-dia, exemplificou o Valentim em inúmeras ocasiões nestes anos.

No programa explicou-se com clareza que, embora se modificariam os estatutos para permitir remunerar os cargos diretivos, a intenção nesse caso seria unicamente ter pago o presidente. Na altura, o Valentim Fagim residia em Ourense, cidade em cuja Escola Oficial de Idiomas ministrava aulas de português (com um magnífico ordenado, aliás). A sua intenção era pegar numa excedência, mudar-se de Ourense para Compostela e converter-se, em definitiva, numa espécie de liberado da AGAL (com um ordenado quase a metade que na sua etapa de EOI) para chefiar, na primeira linha, a mudança da associação e mimar o surgimento de novos projetos. Parecia lógico, visto o volumoso programa.

Desde que a candidatura foi apresentada houvo que aturar desqualificações e insídias de todo tipo. Para uns, éramos pouco independentistas, porque três dos integrantes da candidatura militavam no BNG (realmente, quatro). Para outros, éramos o cavalo de Troia da Academia Galega da Língua Portuguesa, quer porque o Valentim fosse académico, quer porque vários dos candidatos usássemos habitualmente uma norma diferente da propugnada pola Comissom Lingüística da AGAL. Para outros, em definitiva, éramos «uns neocon» [sic] por levarmos no programa o assunto da remuneração dos cargos diretivos, apesar de que o único assalariado o seria, como já indiquei, após mudar de cidade, mudar de vida e perder dinheiro polo caminho. Uns neocons de manual.

A Geraçom Spectrum e o Conselho Pola Ponte

Igual que aconteceria em 2012 e acontecerá neste sábado, já em 2015, a do Valentim era a única candidatura que se apresentava. Para estas situações, os estatutos da AGAL obrigam que a candidatura tenha o apoio de polo menos 2/3 da assembleia, contando para isso tanto os sócios e sócias presentes quando aquelas pessoas que enviaram um voto delegado. Afinal, e depois de uma assembleia que ficará para a história, a candidatura da Geraçom Spectrum chegou ao Conselho da AGAL por um único voto de diferença. É nestes casos que podemos dizer que «todo voto conta». Três anos depois, em 2012, novas eleições (antecipadas) e o Conselho da AGAL passou da Geraçom Spectrum à candidatura Pola Ponte, com um tal Miguel Penas como presidente, aliás eleito por unanimidade da assembleia («Bulgária, Bulgária!»).

Desde o já longínquo 6 de junho de 2009 e até 24 de sábado de 2015 tive o prazer de integrar dous Conselhos que, realmente, fôrom um só. Um só, porque mudárom as pessoas, mudárom as responsabilidades, mas o espírito foi sempre o mesmo: cultivar com mimo aquela semente que plantáramos na Arouça.

Para mim, a AGAL foi nesses anos, ademais de uma família e rede de amizades, uma escola. Aprendim o que não está escrito sobre o que é a diretiva de uma associação. Aprendim da papelada, de lavrar atas, de conduzir uma assembleia, da responsabilidade de como investir um dinheiro que não é teu., de  tomar decisões (inclusive não agradáveis), de se fazer corresponsável dos erros igual que dos êxitos, de como diagramar uma publicação, de como gerir uma loja on-line… Uma grandíssima parte das cousas que hoje sei e do que hoje sou devo-o a este período.

Um período, ademais, em que pola vez primeira na minha vida experimentei o que é tomar as decisões por consenso. Isto é, que as cousas não se decidam porque uma maioria se impõe a uma minoria, mas porque as pessoas dialogam e procuram os pontos em comum que permitem que todas ganhem ou que ninguém perca.

Polo Novo Consenso

A limitação de mandados que estabelecem os estatutos da AGAL afastam-nos a vários integrantes do Conselho Spectrum-Pola Ponte do novo projeto, Polo Novo Consenso. Não estaremos na primeira linha, mas a equipa que acompanhará Eduardo Sanches Maragoto sabe já que tem o nosso apoio incondicional, entusiasta, amigo. O Eduardo e o magnífico grupo humano que o acompanhará nesta aventura representam a continuidade dos projetos anteriores.

Nas últimas semanas, um dos pontos do programa de Polo Novo Consenso suscitou um vivo debate, inclusive algumas reações que muito me lembram seis anos atrás. Sobra dizer que em 2015, como 2009, só o tempo dará e tirará razões.

Eduardo, Carlos, Eliseu, Susana, Pepe, Ricardo, Xico e Jon: desejo-vos o maior dos sucessos na assembleia do sábado e, pola minúscula parte que a mim corresponderá, farei que assim seja. Aguardo que, como será o meu caso, a maioria do povo agálico dê também a sua aprovação, que em certa medida será também a ratificação de que o caminho enveredado em 2009 era o necessário para a AGAL da segunda década do século XXI.

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(*) Como pretendeis que este supertijolo se publique num meio de comunicação sério!!?????


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