Apontamentos sobre a nova programação da Rádio Galega

A versão digital d’A Nosa Terra recolhe a nova programação da Rádio Galega. Como já aparece ali não vou repeti-la neste humilde blogue. O que farei vai ser algumas considerações a respeito.

1.- Purgas

A marcha anunciada de Xurxo Souto entrava dentro do normal, como ele afirma numa recente entrevista no n.º 81 do Novas da Galiza. No entanto, o que já não é tão normal é que no apartado dos programas se suprimam espaços que iam dirigidos sobretudo a um público menor de 40 anos e que lograram recuperar para a emissora pública nichos de audiência que tinha perdido, traduzindo-se nuns melhores resultados neste sentido.

Alguns dos programas mais sucedidos encontram-se, precisamente, entre os espaços que dizem adeus. Primeiro, o Aberto por Reformas (já falámos disso neste blogue) que deu passo ao programa Fagot en Fuga, apresentado por Xusto López Caril. Outros que já não voltarão sair a partir da vindoura segunda-feira são o Galicia Primeira Hora, o Un Día por Diante (quiçá o programa com melhores resultados) , O Tren do Serán e O Extrarradio (este, o que um público mais jovem tinha), entre outros.

2.- Xusto López Carril, onipresente

Parece que Xusto López Carril vai ser um dos homens de confiança da nova direção da estação pública. Primeiro, prostituindo o Aberto por Reformas mantendo-lhe o nome e esvaziando-o de conteúdo. Depois, mudando já também o nome para Fagot em Fuga. Durante o Verão conduziu este programa como também um outro os fins-de-semana, Barlovento, dedicado a aspetos da marítima. Agora terá espaço diário de 12 a 14 horas, o Aquí Galicia.

3.- Falso pluralismo

Esta supressão de programas vai parelha da continuidade de outros espaços, alguns com melhores resultados e outros com piores. Autênticos veteranos na programação da rádio pública como o Diario Cultural ou o Galicia en Goles mantêm-se.

Paralelamente, nos novos espaços anunciam-se entre os colaboradores pessoas afins aos dous principais partidos da oposição, dando uma sensação de pluralismo que não vai ser tal quando se deixa de lado o público mais juvenil (já veremos se afinal fazem algo de funambulismo e o encaixam também).

4.- Precariedade laboral e fim de contratos

O PP deixou na sua anterior etapa muita precariedade laboral nos meios públicos como herança ao bipartido. Por sua parte, PSOE e BNG tampouco foram capazes de reduzi-la, e continuaram fazendo-se contratos por obra e serviço e contratos em prática de um ano de maneira sistemática.

A consequência? Que desde há uns meses começaram a expirar alguns contratos da última modalidade. Depois, nos referentes aos por obra ou serviço, estes podem rescindir-se se muda a obra. Por exemplo, mudar o nome de um programa de ‘Un Día por Diante’ para ‘Galicia por Diante’ ou ‘O Tren do Serán’ para ‘A Tarde’ implica mudar a obra. Se havia pessoas com contratos desta natureza nalguns destes espaços já muda a natureza da obra ou esta considera-se extinta. Iremos sabendo em breve.

5.- Politização

Enquanto os meios públicos galegos sigam a ser politizados e dependam do equilíbrio político de cada momento, o poder de turno fará e desfará ao seu antolho.

Se do bipartido critiquei acima a precariedade laboral, saliento também a liberdade de expressão e de informação que havia em todos os espaços, como pode corroborar qualquer pessoa que tenha passado polos meios públicos, em especial a Rádio.

A minha pergunta é: volveremos agora aos tempos nos que a direção da Rádio instava a minimizar os efeitos das catástrofes ambientais, a não usar determinadas palavras, a desinformar e mentir…? Baste comparar a amplíssima cobertura que se deu na Rádio Galega aos incêndios florestais de 2006 com a censura sistemática que se deu aos grandes lumes na etapa pepeira precedente.

Realmente parece que, por enquanto, nos meios públicos só há duas alternativas: a trapalheira com boas intenções (que representou o bipartido) e a pura barbárie. Veremos aginha em qual nos instalamos…


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Comentários

3 comentários a “Apontamentos sobre a nova programação da Rádio Galega”

  1. Avatar de Vixía

    A súa diagnose é moi acertada, punto por punto.

  2. Avatar de andresrguez

    Antes eran una radio, que se podía escoitar sen problemas e agora….non

  3. Avatar de Vixía

    Eu diría máis, eran un arradio. 😉 … xD