O futuro do BNG

Este não vai ser um artigo sobre as múltiplas correntes que compõem o BNG, porque isso já o fez com bastante fortuna Cesare. Tampouco vai ser uma análise dos passados resultados eleitorais, quer porque são passado, quer porque já Calidonia deu chaves muito interessantes (aqui, aqui, acô e acolá).

Porém, este vai ser um artigo sobre quais devem ser as ideias centrais do programa de acção da Direcção Nacional que resultar eleita para capitanear o rumo do projecto político que deveria (importante é o tempo verbal) ser referente no nacionalismo/galeguismo.

A maré de siglas confunde(-me, -nos, -vós, -os/as), por isso vou-me referir a ideias, e não a nomes ou alternativas concretas. Na minha modesta opinião, e no contexto actual, as ideias-força devem ser duas: soberanismo e socialismo.

SOCIALISMO

Indo para a acepção mais etimológica e histórica do termo, levo anos a apostar no socialismo como projecto transformador da sociedade e de extensão de um sistema público do bem-estar. Iniciativas e direitos que temos hoje, tais como a negociação colectiva das condições de trabalho, as indemnizações e prestações por desemprego, a  redistribuição da renda, a cobertura social, a sanidade pública e um longo et cetera bebem directamente das ideias socialistas.

O socialismo, ante tudo, baseia-se na sociedade, na primazia dos interesses sociais, na solidariedade. Num contexto actual de crise, devem ser os ricos quem paguem o seu custo, e não as classes médias e baixas. Utilizando a terminologia mais vetusta, deve ser o capital e não o proletariado quem pagar o preço da crise. Cumpre redistribuir (com maior firmeza e determinação) os lucros que nos últimos anos amassaram as grandes fortunas e pô-las ao serviço social. A crise foi originada polo capitalismo, e medidas capitalistas como que sejam as classes trabalhadoras quem façam tal esforço não têm jeito.

SOBERANISMO

Falo do soberanismo porque qualquer organização que se considerar nacionalista/galeguista não pode esquecer que a paulatina conquista da soberania nacional é um objectivo imprescindível para a construção nacional, um caminho no qual cada conquista deve manter-se e multiplicar-se, sem permitir qualquer retrocesso.

Num momento como o actual, no qual o Estado espanhol constamente está a ceder soberania a instituições supra-estatais (como a União Europeia), isto traduz-se em que também a Galiza perde quotas de soberania que custará muito trabalho recuperar (se é que o conseguir). Como exemplo, um efeito directo disto é que o sector leiteiro galego está sumido numa grave crise, principalmente pola importação massiva de leite da França. Diante desta situação, a Administração galega pouco pode fazer, já que o mercado leiteiro (como o resto) é capitalista, e está regulado por directrizes europeias que impedem (teoricamente) medidas de carácter proteccionista. Noutras palavras, é em Bruxelas onde se decide o futuro deste sector, como o de tantos outros, polo que precisamos recuperar a soberania para decidir sobre a economia do país de jeito directo.

Conquistar a soberania nacional é um factor imprescindível para este tipo de situações não acontecerem. Outro tanto se passa no âmbito estatal com o etiquetado de alimentos e outros produtos, nos quais a legislação espanhola garante a presença do castelhano (obrigatório, por exemplo, em alimentos ou fármacos), mas não a do galego. Cumpre, pois, recuperar a soberania para dar ao galego o necessário carácter de língua nacional.

Considerações finais

Poderia pôr ainda muitos mais exemplos de que o nosso país precisa mais socialismo e mais soberania, mas cuido que os já expostos são avondo clarificadores. É por isso que cuido que qualquer alternativa para liderar o BNG não deve realizar uma só concessão nesse caminho pola soberania e polo socialismo.


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