As ‘não soluções’ para a crise económica

Da esquerda para a direita, o presidente da Junta, Emlio Pérez Touriño; o delegado do Governo espanhol na Galiza, Manuel Ameijeiras; e o presidente da patronal espanhola, Gerardo Díaz Ferrán
Da esquerda para a direita, o presidente da Junta, Emlio Pérez Touriño; o delegado do Governo espanhol na Galiza, Manuel Ameijeiras; e o presidente da patronal espanhola, Gerardo Díaz Ferrán

Recentemente o presidente da CEOE (a patronal espanhola) assegurava que para paliar os efeitos da crise e dinamizar o mercado, fazia-se necessário adoptar uma medida tão «impopular» como a de abaratar o despedimento. Realmente serviria esta medida para o objectivo anunciado, combater a crise?

Do meu ponto de vista, julgo bem difícil que abaratar o despedimento possa paliar a crise. Em todo o caso, poderia-se dizer que palia os efeitos da crise para os empresários, mas não para a sociedade. E ainda assim seria uma verdade a médias, já que os efeitos positivos no curto prazo (em termos de redução de custos de pessoal) acabariam trazendo consequências negativas. Quais? Simples: a mais pessoas despedidas, mais pessoas que vêem reduzido o seu poder adquisitivo, o qual se traduz numa descida do consumo que, por sua vez, se traduz em perdas económicas para as empresas e em mais despedimentos. É como a carioca que trava na cauda.

A saída para este beco já a deram economistas das décadas de ’70 e ’30 do século passado coincidindo com as graves crises energética e bolsista respectivamente. Aquelas crises acompanharam-se de crises de confiança, isto é, o pessoal tinha a crise também nas cabeças e não consumia, as moedas perdiam valor, a inflação disparava-se… o mesmo que acontece agora, mas de jeito mais brutal (ride vós do nosso IPC que medra mais do 4% anual com o que tinha acontecido naquelas alturas).

A solução para as crises de confiança costuma passar por um investimento do Estado em protecção social para as pessoas sem emprego (de tal jeito que, no possível, façam vida normal apesar da situação, isto é, que consumam) e em gasto público empresarial (obra pública, contratas de todo tipo, investimentos publicitários… todo tipo de investimento para todo tipo de sectores). Isto consegue que o pessoal continue a consumir e que se gere emprego (ou simplesmente não se destrua mais até se normalizar a situação).

Em definitiva, é mais remédio contra a crise actual gerar emprego do que abaratar os despedimentos. Ao menos, é claro, na lógica de um sistema económico capitalista, baseado no consumo. Parece inacreditável que o presidente da patronal espanhola tenha tão pouca formação como para não saber isto. Será que pensaria em liscar fora com o dinheiro poupado através dos despedimentos baratos quando formulou essa proposta idiota?

Uma outra não solução à crise deu-a o outro dia o empresário Paco El Pocero, artífice de urbanizações inabitadas em pleno deserto castelhano. A sua receita milagreira? Pois liberalizar todo o chão, ou seja, que o Estado deixe construir em qualquer lugar. Precisamente o insustentável modelo produtivo baseado no urbanismo irracional foi que nos ajudou a chegar a esta crise. Curiosamente, incidir nos erros passados são as fórmulas mágicas que oferecem este estrambótico indivíduo mais o máximo representante do empresariado espanhol. Com mentes tão preclaras, haverá quem se admire de estarmos em crise!

E agora que sabemos o que não se deve fazer, uma de duas:

  1. Continuamos numa economia capitalista, de mercado, e aplicamos alguma das soluções com provado sucesso passado…
  2. … ou deixamo-nos de caralhadas e passamos ao socialismo utópico 😉

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Comentários

3 comentários a “As ‘não soluções’ para a crise económica”

  1. Avatar de alema

    eu da crise económica saco dúas conclusións ou reflexións:
    – ata que punto temos nós os cidadáns responsabilidade no estoupido da burbulla inmobiliaria?
    – vaia papo que teñen en USA ao inxectar cartos públicos para salvarlles o pelexo aos bancos. para outras cousas máis necesarias (fin da fame no mundo) non bolen tanto…

    e como este é un blog para ser repugnantiños…
    “bursátil” é un castelanismo, gê 😀

    1. Avatar de galeguzo

      e como este é un blog para ser repugnantiños…
      “bursátil” é un castelanismo, gê

      Bom, na internet há umas quantas referências em português à crise bursátil (veja aqui ;)). Não sei verdadeiramente se é ou não um castelhanismo, mas afinal optei por fazer-che caso (em parte :D) e mudar por bolsista, que sim aparece nos dicionários como «relativo à bolsa».

      Voltando para o tema do artigo, os cidadãos temos responsabilidade na burbulha imobiliária como em qualquer outro processo especulativo. E, como sempre, uns cidadãos têm mais responsabilidade sobre outros, é claro 😀 Uns por activo, por especularem; outros por passivo, por acreditarem que era realidade a ficção especulativa. É um processo complexo este que mistura as percepções, os factos e a especulação (essencialmente porque a especulação não se baseia no presente, mas sempre num futuro hipotético).

      Já no referente às ajudas públicas nos EUA para a banca… homem, é uma medida contraditória. De uma parte, porque rompe o princípio do livre mercado preconizado polos neo-cons e outros grupos ultraliberais, estes mesmos que negam ajudas para o chamado terceiro mundo alegando que o mercado é capaz de se regular só e que mais tarde ou mais cedo chegará a um equilíbrio. Claro que quando a crise toca no peto próprio… para quê precisas princípios, se ficaste sem dólares :D?

      Por outra parte, não julgo errónea a medida (ainda que sim contraditória e hipócrita), já que muita gente tinha pedidos créditos para vivendas, carros, seguros de vida, etc., que ficaram paralisados pola quebra das entidades bancárias. Ainda, muita gente tinha contratados seguros por se isso acontecia, o qual levou para a quebra de asseguradoras que tinham esse seguro para a quebra dos bancos… Novamente, a carioca que trava na cauda.

      Para paliar a crise de liquidez (que vai acompanhada da crise de confiança), é que o governo EUA tomou uma medida tão de esquerdas como intervir na economia a base de ajudas públicas e nacionalizações, algo impensável no sistema capitalista por excelência!

      Na minha opinião, reafirmo-me no já dito: ou adoptamos este tipo de medidas (capitalistas com verniz socialista), ou directamente passamos a um modelo de socialismo utópico 😀

  2. Avatar de alema

    ante estas análises só se me ocorre unha cousa:
    gerardinho, pa’ conselleiro (ou ministro) de Economía xa!! 😀